Até bem pouco tempo, os brasileiros compravam ou faziam assinaturas de revistas em um volume considerável. Hoje, a venda de jornais e revistas caíram, de uma forma tão grande, que é difícil encontrar uma banca na maioria das cidades. Isso significa que o brasileiro está lendo cada vez menos.
Dizer que agora a leitura é feita
pelo celular é falta de conhecimento da realidade, porque pela internet as
pessoas gastam seus tempos conversando ou vendo o que outras pessoas publicaram
de seus próprios mundinhos. Na maioria das vezes, apenas fofocas ou informações
que nada constroem. Qualquer texto com mais de três linhas não é bem vistos,
pois é tachado de “textão”, algo considerável abominável por aqueles que não
suportam ler nada que os faça pensar.
Em 2013, escrevi uma crônica
baseada em uma pesquisa que fiz em Assis Chateaubriand. Na época, havia ainda
uma banca de revistas com inúmeros títulos, diários, mensais e semanais. Constatei
que, com as redes sociais aumentando dia a dia, já havia diminuído o número de
leitores, mas tinha ainda um número grande de pessoas que compravam publicações
com fofocas de artistas ou com forte apelo sexual. Este último vendia muita
revista pornográfica. Porém, tive a informação de que havia aumentado o número
de leitores de livros. O quadro era até melhor que o resto do país, neste quesito,
quando comparei meus números com uma pesquisa do IBOPE.
Vou iniciar uma nova pesquisa
para saber como estão esses números hoje, 2022.
Segundo a Editora Terra, o hábito
da leitura começa antes de nascer. A escritora Alessanda Roscoe defende o
Aletramento Fraterno que consiste em ler para os filhos ainda durante a
gravidez. O nome tem uma razão de ser: estimular o hábito da leitura em uma
criança é uma tarefa que pode envolver toda a família", diz essa autora
que já escreveu 17 livros. O mesmo estudo mostrou que 85% dos brasileiros
prefere assistir televisão a ler qualquer tipo de leitura. Isso foi em 2013.
Hoje, a atenção das pessoas é voltada para aquilo que a internet proporciona
com foco nas redes sociais.
Quando o assunto é notícia, a
atenção é voltada, pela grande maioria, às notícias policiais. Esse mercado do
crime ainda gera muita audiência, pois para a maioria das pessoas chega a ser
confortável saber detalhes de desgraças, desde que não seja na sua família.
Ainda em 2013, a revista Veja
publicou uma matéria sobre este assunto, onde a supervisora da Fundação Educar
DPaschoal, Marina Carvalho, profissional que se dedicava a programas de incentivo
à leitura, disse que uma das razões para a queda no hábito de leitura entre o
público infanto-juvenil é a falta de estímulos vindos da família. “Se em casa
as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma
obrigação escolar. Se existe uma queda no número de leitores adultos, isso se
reflete no público infantil”, garante Marina.
Em 2006, o jornal inglês The
Economist disse que a "leitura no Brasil é uma vergonha. Muitos
brasileiros não sabem ler”. Em 2000, um quarto da população com 15 anos ou mais
eram analfabetos funcionais.
Muitos, simplesmente não querem
ler. Apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio
lê 1,8 livro não-acadêmicos por ano, menos da metade do que se lê nos EUA ou na
Europa.
Em uma pesquisa sobre hábitos de
leitura, os brasileiros ficaram em 27º lugar em um ranking de 30 países,
gastando 5,2 horas por semana com um livro. Os argentinos, vizinhos, ficaram em
18º".
Uma das razões de o brasileiro
ler pouco está ligada aos preços dos livros, considerados muito caros. Nos
últimos 18 anos, a venda de livros encolheu 20%, segundo pesquisa do setor
editorial. A culpa é colocada no preço do papel e nos impostos. O preço médio
de um livro é de R$ 20, agora em 2022, mas um exemplar de sucesso chega a
custar bem mais, como “Inteligência Artificial”, de Russel e Norvig, saindo
hoje por 526 reais no Mercado Livre. Para muita gente, é considerado muito
dinheiro. Porém, na média, acho que os livros ainda estão baratos, pois, entre
20 e 50 reais pode se comprar um exemplar entre centenas de livros que são
sucesso de leitura no mundo todo. O preço não pode ser desculpa para não ler.
Além do mais, é possível ler milhares de livros em PDF pelo celular, de graça,
sem ter que gastar um tostão. Só não lê quem não quer.
Talvez, a razão maior do hábito
de leitura esteja na afirmação da especialista Marina Carvalho, que diz também
que crianças precisam estar expostas aos livros antes mesmo de aprender a ler. "Assim,
elas criam uma relação afetuosa com as publicações e encontram uma atividade
que lhes dá prazer".
Com isso, e por isso, podemos afirmar que ler vem de berço.
* Por Clóvis de Almeida - 2013 - 2022

