sábado, 28 de maio de 2022

Maioria dos brasileiros não entende o que está escrito

Só 8% dos brasileiros consegue ler e interpretar

Em 2016, uma pesquisa demonstrou que só 8% dos brasileiros consegue ler e interpretar qualquer tipo de texto, por mais complicado que ele seja. Como não tivemos nenhuma evolução significativa na Educação que pudesse mudar esses dados, a coisa deve estar do mesmo jeito, ou pior.

Naquele ano, escrevi e publiquei um artigo sobre o assunto. Nesta semana, ao publicar um anúncio classificado no Facebook, tive a certeza de que muita gente não consegue mesmo entender um pequeno texto de compra e venda, o que dirá uma crônica de uma lauda?

É incrível como há pessoas que confundem as ideias escritas, mesmo quando elas são expostas em apenas duas linhas.

Foi então que me lembrei dessa pesquisa e fui procurá-la.

O número de pessoas que se confundem com os parágrafos é muito grande. Se aplicarmos estes 8% em Assis Chateaubriand, veremos que somente 2.720 pessoas conseguem ler e interpretar textos de variados tipos e estilos! Assim, 31.280 pessoas estariam lendo sem entender o que leram. Seria fantástico se não fosse trágico.

A pesquisa, que ouviu 2002 pessoas, concluiu que na construção civil ou indústria, há somente 3% no melhor nível de alfabetização. No comércio, são 10% das pessoas e na área de saúde, apenas 11%.

É assustador!

Um dos textos muito utilizados em aulas de interpretação de textos e concursos é este: “As meditações traçam num presente eterno a trajetória de um pensamento que decidiu apoiar-se apenas em si mesmo, contando apenas com suas próprias forças para ter acesso à verdade”.

Para a maioria das pessoas, o parágrafo é muito complicado e de difícil entendimento. Oito por cento entende na primeira vez que lê, enquanto apenas 10% entendem ao ler na segunda vez. Mas, 40% só entendem quando há outro texto explicando, enquanto 51% consegue entender com explicação falada. Porém, 49% não entendem nem se desenhar.

No caso do texto acima, a interpretação mais simples seria: “Pensar nos faz o tempo todo viver uma realidade com bases em conhecimentos nossos, tendo somente nossa vontade e conhecimentos para conhecer ao que é certo ou errado”. Ocorre que esta interpretação também é difícil de ser entendida pela mesma maioria. O problema não está nas palavras, mas de como elas são juntadas. Um exemplo clássico é a famosa frase do pensador e economista inglês Ernst Friedrich Schumacher: “Qualquer idiota pode fazer coisas cada vez mais complexas. É preciso um toque de gênio e muita coragem para se mover na direção oposta”. Com certeza você entendeu lendo apenas uma vez. Caso não tenha entendido, está fora do grupo dos 8%.

É triste saber que essa realidade vai de mal a pior, já que, se as pessoas não liam para treinar a interpretação dos textos, agora com o celular é que não vão ler mesmo. Não se pode escrever mais do que duas linhas nas redes sociais que lá vem alguém dizendo “olha o textão!”.

Num mundo em que a comunicação se limita a apenas um punhado de palavras comuns, e diminuindo cada vez mais com o pouco uso ou abreviaturas, ficará cada vez mais difícil para as pessoas usarem as técnicas de interpretação de texto. Alguém pode dizer que não faz diferença, desde que consigam se comunicar. É a recorrência à famosa, ingênua, simplória e burra frase: “o importante é se fazer entender”. Pode até ser, mas isso só vale para o mundinho da vida dentro das redes sociais, do “tipo” homo habilis dos tempos modernos. Aqui fora o bicho pega, pois tem gente que não está conseguindo entender os avisos de corte de energia ou de água, nas contas que chegam em casa. A continuar assim, em breve as pessoas estarão apenas balbuciando palavras de uma ou duas sílabas, como na Idade das Cavernas. Uga, uga!

Mas, é triste informar que logo chegará também o tempo em que apenas o primeiro uga será entendido para a maioria. O outro “uga” vai gerar controvérsias, com uma infindável lista de contestações de gente que se acha letrada, quando não consegue saber o que há em comum entre um ignorante e um patego.

 

*Pesquisa: IPM (Instituto Paulo Montenegro) e pela ONG Ação Educativa. No conjunto, foram entrevistadas 2002 pessoas entre 15 e 64 anos de idade, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país.

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