sábado, 30 de dezembro de 2023

Tupãssi ou Tupacy?

 

A cidade de Assis Chateaubriand nasceu por volta de 1958, como um pequeno povoado que chamaram de Campo dos Baianos, dentro do município de Guaíra, que se estendia numa grande área. A partir de 1960, passou a ser um distrito de Toledo, que se emancipou de Guaíra, passando a ser chamado de Tupãssi.

Mas e esse nome, de onde surgiu?

O Dr. Rudy, ex-prefeito e o gerente da Colonizadora que colonizou a cidade, disse a mim, que o nome de Tupãssi surgiu a partir do nome de uma fazenda que o Dr. Oscar Martinez, o dono da Colonizadora, tinha lá em Mato Grosso. O nome da fazenda era Tupaci. Que em Tupi Guarani significa: Tupa, Deus e CY, mãe – assim a junção de Tupaci significa Mãe de Deus.

Acontece, que o Dr Oscar Martinez não confirma isso. Em 2010, eu conversei com ele numa longa entrevista, lá na casa dele em Curitiba. Quando eu perguntei sobre a origem do nome Tupãssi, ele não demonstrou.

De qualquer forma, o nome Tupãssi, que foi herdado depois pelo então distrito de Novo Tupãssi, que hoje é município, parece estar grafado errado, se realmente tem origem no Tupi Guarani.

Tupa ou Tupã, realmente quer dizer Deus. Mas, “mãe” em tupi-guarani se escreve com C e Y, ou seja, CY.

Como nos seguintes exemplos:

Yacy, Mãe Natureza

Amanacy, mãe da chuva

Aracy, mãe do dia

Iracy, mãe do mel

Yaucacy, mãe do céu

Pesquisei em diversos dicionários tupi guarani e percebi que todas as palavras terminadas com o som de SI, são escritas com CI ou CY. Não encontrei nenhuma terminada em SI, escrita com S, muito menos com dois esses.

Então, se realmente a palavra Tupãssi significa mãe de Deus, como afirmam vários registros, inclusive oficiais, deveria ser escrito com CY: Tupãcy, e não com dois esses.

De acordo com as normas ortográficas da língua portuguesa, em vigor desde 1943, prescreve-se o uso da letra "C" para palavras de origem indígena.

Interessante que no Rio Grande do Sul há um município que se chama Tupanci do Sul. Pelas normas, também está escrito errado. Embora CI, esteja certo, tupa se escreve com o acento til no a, e não PAN, com N.

Em resumo, realmente o nome Tupãssi tem origem no tupi-guarani, escrito Tupacy, sem acento, com C e Y, que significa “Mãe do Deus Raio”.

 

Agora, porque registraram de forma diferente, não consegui descobrir. Se alguém conhece a razão, conta aí que a gente quer saber.

Grafado errado ou não, um nome registrado é um nome próprio. Passa ser uma entidade. É como Geraldo e Gerardo, Cleusa ou Creuza? Cácio ou Cássio? Cesar, ou Cezar? Clóvis ou Clóves?

Nome é nome. O importante é o que significa, como Tupãssi, terra de gente boa que tem todo o nosso respeito.

Gostou da crônica, compartilha, clica nesse negócinho de gostei aí.

Um abraço, hoje, com dois esses?

 

 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Uma cidade cheia de gente


A Rua Riachuelo é uma das mais movimentadas da cidade. Mas, muitos não sabem que ela já foi mais do que isso, um grande aglomerado de mercearias, um shopping de secos e molhados a céu aberto. Até a metade dos anos 70, esta rua era o início da estrada para Cascavel e, talvez por isso, os comerciantes preferiam ali se estabelecer. O Zé Japonês foi um dos primeiros a construir um salão de madeira e montar uma “venda”, que está no mesmo lugar até hoje, conservando as mesmas características do comércio de balcão, onde o “vendeiro” pega a lista de compras e vai juntando os itens nas prateleiras ou nas sacas espalhadas pelo chão. O Zé foi um dos campeões da venda de caderneta. Ele já faleceu, mas seu filho continua com a venda, no mesmo modelo que começou. Mas houve outros também importantes na Riachuelo. O Capixaba, na esquina de baixo, Geraldo Arroio, mais abaixo, a venda do Luis Rato na esquina com a Avenida Tupãssi e mais uns 10 outros merceeiros, estabelecidos na mesma época, como o Geraldo mineiro, seo Jaime, Seo Vitório, e seo germino. A rua chegou a comportar 13 mercearias na mesma época. E havia freguês para todos, pois tinha muita gente. Onde hoje estão os meios-fios, eram enormes filas de carroças estacionadas. No meio, um ou outro Jeep, ou uma perua Aero Willys. Carro tinha pouco, mas carroça e animais se misturavam aos montes com as pessoas. As famílias que moravam nos sítios vinha fazer compras e voltavam com as carroças cheias de mercadoria. Vinham cedo, passavam nas lojas de roupas, calçados, farmácias e todo tipo de comércio. Por último, iam para as vendas comprar comida, louças, panelas, fumo, corda, ferramentas, pregos, bebidas e os mais variados artigos de secos e molhados. Enquanto o vendeiro ia pegando as mercadorias listadas, a família enchia o bucho com um sanduíche de pão bengala recheado de mortadela, regado a uma tubaína gelada na geladeira tocada a querosene. Carroça cheia, buchos abastecidos, hora de pegar o caminho de volta pelas estradas estreitas, cheias de buraco e poeira. Muitas vezes debaixo de chuva e por cima de muito barro e lama do chão vermelho da terra que produzia hortelã, feijão e café. No Natal, o enfeite eram somente as pessoas fazendo compra, deixando parecer uma cidade inteira em festa. Algumas poucas lojas deixavam uma radiola tocando o único disco de música natalina que se conhecia por estas bandas, a Harpa de Luis Bordon, a mesma que também tocava várias vezes ao dia no serviço de alto falante da cidade, instalado em torre de madeira no Bar Tupãssi. Era um som que envolvia a todos num clima de alegria, era um Natal que não se vive mais. Não com aquela magia, num misto de pureza, simplicidade, ingenuidade, honestidade, bondade, simpatia e respeito pelo próximo. Não se falava em roubos, assassinatos e outros crimes, nem ladrão de galinha havia. Quando alguém perdia dinheiro na rua, fazia um anúncio no alto falante da cidade e logo aparecia alguém com o dinheiro encontrado, sem faltar um centavo. Coisa inimaginável para os dias de hoje Meu primeiro emprego foi em uma dessas vendas da Rua Riachuelo. Geraldo Arroio era o proprietário e deu a oportunidade a mim e ao amigo Gelásio. Claro que não deu certo, mas foi a primeira experiência de aprender a responsabilidade no trato com as pessoas. Aos 13 anos de idade a gente mais comia doce do que trabalhava. Naquele tempo, as mercearias vendiam de tudo. Até bacalhau, que não era tão caro como hoje, mas também não devia ser bacalhau de verdade. A maioria da freguesia vinha da roça, gente que plantava e colhia hortelã. A moeda era uma caderneta, onde se marcava os produtos vendidos para a soma no fim do mês ou a cada temporada. Algumas famílias só pagavam a conta no fim da safra ou uma vez por ano. Havia confiança e quase ninguém dava calote. Era difícil uma semana que não se vendia pelo menos uns cinco penicos. E não eram de plásticos. Fabricados em latão e banhados em louça, até poderiam ser confundidos hoje com panelas, não fossem as alças de caneca. Em casa, havia três. Me revoltava ouvir minha mãe dar a ordem de despejar os penicos na privada do fundo do quintal, todos os dias de manhã. Eram três viagens com o nariz tampado e a cara virada pra não ver o conteúdo. Um vez tropecei e caí com “tudo” na horta onde o caminho atravessava. Levei umas chineladas e fiquei de castigo, não por cair, mas por ter “adubado” os pés de alface. Minha primeira e única experiência de balconista me permitiu participar do maior movimento comercial que esse município já viu. Uma população de quase 140 mil habitantes fazia girar muito dinheiro na cidade. Era um tumulto organizado, onde se podia ver de tudo nas ruas. Sorveteiros se trombavam em dezenas com outras tantas dúzias de pipoqueiros, doceiros e gente vendendo salgados em cestas que carregavam nos braços ou em rodilhas na cabeça. Verdureiros tinham aos montes, com cestas ou em carrinhos, como fazia a Dona Mercedes, que levava uma horta inteira por toda a cidade. O marido, japonês, era quem cultivava as hortaliças. Era comum os vendedores de frangos vivos. Galinhas ou patos, amarrados pelos pés e pendurados em varas de madeiras, carregadas nas costas ou em bicicletas. Vendiam tudo, não sobrava nada. Vendedores de ovos batiam às portas, com cestos cheios. Também trocavam por mercadorias ou por serviços com os comerciantes. Mas ainda havia os padeiros que entregavam o pão em casa e as carroças dos bucheiros, um açougue ambulante. Não vi tudo, mas vi muito.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Assis Chateaubriand 1974 - um grande ano


Em 1971, Assis Chateaubriand contava com apenas 5 anos de emancipação já era o oitavo município do Estado em população. Sem falar na energia elétrica e muitos outros benefícios. Havia quase 100 escolas municipais e aproximadamente 12 mil estudantes. Já se previa 120 mil habitantes em pouco tempo. Chegou a 140 mil em 1974.

O povo se maravilhava com as obras da Prefeitura em andamento. Diversas construções públicas e privadas mostravam o franco desenvolvimento da cidade que ainda era uma criança. Eram erguidos o Estádio Municipal, canchas de futebol, a fábrica de papel, o ginásio estadual, uma fábrica de tubos, asfalto no centro, armazém da Cotia, serraria da Prefeitura, Hospital do Sindicato, escolas diversas e os prédios dos Correios e da Telepar; obras que marcaram os primeiros anos da cidade que viria a ser chamada de “Morada Amiga”.

Antes de completar 10 anos de emancipação, a cidade recebeu a infraestrutura básica para o desenvolvimento.

O sistema DDD de telefonia no ano seguinte, 1975, colocou Assis Chateaubriand em contato com o Brasil e o mundo. A pavimentação asfáltica das ruas e avenidas, o abastecimento de água, a imprensa, agências de rendas, estabelecimentos bancários, cooperativas, foram elementos de vital importância para o desenvolvimento de uma cidade e, Assis Chateaubriand, ainda jovem, possuía todos estes requisitos que muitas cidades vizinhas, fundadas há mais tempo, ainda estavam pleiteando.

Naquela época, quem nascia aqui era chamado de Assis Chatobriense. Mas, a maioria dos comunicadores da Rádio Jornal, que surgiu em 1978, passou a definir os aqui nascidos como chatobriandense. Eu sempre fui contra e sou até hoje. Porque que a nome da cidade tem uma letra muda, o D, que não se pronuncia. A pronúnica correta é Assis Chatobriand, e não cha teau briande, como muitos dizem, inclusive até alguns políticos que deveriam aprender a falar o nome correto da cidade, afinal de contas, eles devem ser exemplos.

Assim como não se fala o D de Chateaubriand, não faz sentido dizer chatobriandense, com ênfase no D. Bobagem, é chatobriense. Isso é o gentíloco,  pode ser comprovado no site do IBGE, que informa: o gentílico de Assis Chateaubriand é Assis Chatobriense!

No site Wikipédia informa que é o gentílico é chatobriandense. Ocorre que o Wikipedia não é confiável, porque ele é alimentado por qualquer, sem nenhum compromisso com regras gramaticais, etimológicas, históricas ou qualquer fator que dê credibilidade. Tanto é que qualquer pessoa também mudar as informações lá contidas. Assim, quem escreveu chatobriandense lá seguiu a norma da maria vai com as outras.

Mas, se você verificar o site oficial da prefeitura, na página de Dados Gerais, vai confirmar que o Gentílico assis-chateaubriense.

Portanto, já passou da hora de algumas pessoas aprenderem que chatobriandense não existe. Somos chatobrienses.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Nem sempre sobrevivem os fortes

O rádio como conhecemos hoje continua em ritmo de queda. A tendência é desaparecer a forma de como a comunicação radiofônica é feita dentro de pouco tempo. A diminuição do dinamismo de locução é o primeiro sintoma de extinção de um estilo que começou nos anos 40, sofreu diversas mudanças com desculpas de modernidade, mas que preserva praticamente os mesmos moldes, até hoje.

A informação tem base nos gostos, costumes e cultura dos jovens de hoje, que, a cada geração, se distancia ainda mais do modelo de fazer rádio que embalava a juventude dos anos 60, 70 e 80. Não se ouve mais rádio como antigamente. No passado, a patroa ouvia rádio no radinho da empregada, segundo elas. Hoje, a mesma patroa assiste à televisão que fica na cozinha ou até mesmo na lavanderia. O locutor com voz de veludo já não engrossa o papo mais, dando lugar ao programa matinal na TV, ou às presepadas dos programas de fofoca televisivos. O rádio não tem mais vozeirão, o que se chamava de voz padrão, com raras exceções. Hoje, qualquer voz serve. Até as vozes femininas, que eram escolhidas pela firmeza de pronúncia, hoje são substituídas por alguém que só sabe ler o nome de músicas e receitas de bolos. 

Se na imagem um rosto bonito é mais atraente do que uma cara feia, uma voz comum sempre será uma voz menos valorizada que um vozeirão. Qual você prefere para a narração de um vídeo, a voz de um Cid Moreira ou o nhe nhe nhein de um zé mané com voz de pato? (com o respeito que o pato merece)

Raramente alguém dá bola para o horóscopo, pois o que era algo interessante para muitos, hoje é só uma bobagem para a maioria. Na verdade, sempre foi bobagem, mas havia público que dava até lucro em razão das previsões astrológicas diárias. Cheguei a ter patrocinador exclusivo para ler horóscopo que eu recortava de jornais velhos, porque a edição do dia só chegava quando o programa tinha terminado. E ai de mim se esquece de falar de um signo!

As emissoras de rádio estão rebolando e se virando nos 30 para manter a audiência, enquanto que nos anos 70, nove a cada 10 pessoas ouvia rádio o dia inteiro. Os locutores eram considerados “artistas” e davam autógrafo. Hoje, os programadores são uma maioria de anônimos e grande parte dos adolescentes nem sabe que eles existem.

No interior, a preocupação é menor, pois o mercado ainda investe muito na programação do rádio. Mas é um fôlego que também tem tempo contado, pois, as crianças do interior também crescem com um celular que toca só o que elas querem ouvir. Se esses são o futuro, o que será do rádio daqui a 20 anos?

A maior autoridade em rádio no Brasil é o professor, jornalista e radialista Heródoto Barbeiro. Segundo ele, abre aspas, “quando todas as emissoras estiverem em FM, a competição vai aumentar e pode chegar ao canibalismo. [uma comendo as outras]”. Já está ocorrendo isso. Tem emissora de rádio vendendo comerciais quase de graça.

O maior erro que já fez em rádio no Brasil foi passar as rádios AM para FM. Não havia necessidade disso. Se bem que, rádio é rádio, independente de frequência. Mas acabou um diferencial que mantinha uma cultura de ouvintes.

Agora, tá mundo em FM, buscando espaços que já não se dividem entre si, mas numa disputa com o Youtube, Instagram, Tik Tok, Facebook e outros canais de informação, onde a imagem prova todo dia que vale mais do que mil palavras.

Darwin já dizia que os que sobrevivem não são os mais fortes, mas os que se adaptam. Quem não se adaptar vai morrer.