Pouca gente conhece o que sobrou do que seria uma fábrica de papel que veio se instalar em Assis Chateaubriand no início dos anos 70. Até mesmo a longa história da existência da indústria é pouco conhecida da população.
Nas margens do Rio Alívio, a
cerca de três mil metros do centro da cidade, repousa um monumento ao abandono:
um túnel de 100 metros de comprimento, erguido em concreto armado. Está lá,
esquecido, há 48 anos em meio à mata, coberto pela vegetação. Do outro lado do
rio, descansa solitário um paredão, também de concreto, com aproximadamente 60
metros de comprimento. Se as obras chegassem ao término, o muro seria a
barragem de um grande lago que abasteceria uma fábrica de celulose para a
fabricação de papel e o túnel seria a base das máquinas, do que poderia ser uma
grande indústria. Fala-se também que as águas da represa que seria formada no
local poderiam funcionar uma usina hidrelétrica.
Não é preciso ser engenheiro ou
pedreiro para imaginar a grande quantidade de cimento, pedra, areia e ferro,
usados no que hoje são só ruínas. As paredes do túnel e do paredão medem 42
centímetros de espessura, laterais e teto. A altura mede 2 metros e meio, mesma
medida da largura. Há também concreto no piso, em toda a extensão. Os ferros,
de grandes bitolas, estão trançados por toda a construção, que ultrapassa a 900
metros quadrados de alvenaria bem feita. Em uma das extremidades, o túnel
possui uma elevação que lembra uma enorme caixa d’água, acompanhada de duas
torres, também de concreto. É possível andar no teto, onde a vegetação se
mistura com o piso de cimento.
O pioneiro Massachiro Mori, que
foi vereador e presidente da Câmara de Assis Chateaubriand por três
legislaturas, me contou certa vez que o município fez a doação, com aprovação
da Câmara, de dois terrenos, que juntos somavam sete alqueires, para a
construção da fábrica de papel nas margens do Rio Alívio, na estrada para o
Carajá, há três km do centro da cidade. Disse ainda que a fábrica chegou a
produzir algumas bobinas de celulose e logo depois fechou e foi abandonada.
Essa informação me foi confirmada pelo pioneiro Santo Trovo, um dos primeiros
funcionários da Colonizadora Norte do Paraná, nos anos 60. Ambos já faleceram.
O prefeito da época, quando do
início da obra, era Rudy Alvarez. Em uma longa entrevista, Rudy me afirmou que
foi até Santa Catarina convidar um empresário para montar uma fábrica de papel
em Assis, a fim de aproveitar o manancial do Rio Alívio. Ofereceu o local e
energia elétrica da usina municipal, que o próprio Rudy havia construído.
Segundo Rudy, os homens vieram e começaram a fábrica, mas largaram tudo e foram
embora porque não tiveram apoio do outro prefeito, que seria o Koite.
Diante dessas informações, falei
com ex-prefeito Koite Dodo. Liguei a ele, que já morava em Curitiba, e perguntei
a versão dele da história. O Koite narrou que, ao assumir seu primeiro mandato
de prefeito em 1977, mandou fazer um levantamento completo da construção da
fábrica e chegou à conclusão de que não havia consistência nos propósitos da
indústria que se propunha a instalar na cidade. Segundo Koite, os diretores da
fábrica queriam tudo de graça. Queriam que a Prefeitura continuasse a
construção com dinheiro público. Koite lembrou que a situação não era boa e o município
não possuía recursos para um investimento tão grande. Ficava inviável. O Koite
disse ainda que se colocou à disposição para interceder junto ao governo do
estado e federal para solicitar ajuda, mas o pessoal da fábrica não aceitou, abandonaram
tudo, fecharam a fábrica e foram embora, levando as máquinas e os sonhos de
mais de 2 mil funcionários. Ao final da conversa, Koite Dodo disse bem assim: a
intenção dos donos da fábrica não era boa.
A fábrica funcionou de 1970, a
1977 – foram sete anos fabricando massa base para papel e papelão. O engenheiro
Tadamishi Hara, que atuou na abertura do município nos anos 60, me disse também
em entrevista que esta fábrica já estava fabricando papelão para caixas de
sapatos de algumas fábricas de São Paulo.
Seja lá o que se deu para o
fechamento, a verdade é que se tratou de uma indústria que estava empregando
muita gente, com já disse, mais de 2 mil funcionários. Eu conversei com alguns
deles para uma longa reportagem que publiquei em dois jornais e no meu livro
sobre Assis Chateaubriand, há mais de 10 anos, com depoimentos, fotos e cópias
de documentos que comprovam tudo isso que acabei de dizer aqui. Se você quiser
saber mais, entra em contato comigo.
Em resumo, a fábrica de papel e
celulose que se chamava Tupãssi, foi um sonho de progresso que ficou perdido e
esquecido nos últimos 40 anos. Está lá, nas margens do Rio Alívio, contrastando
concreto e natureza, num silêncio profundo só quebrado pelo canto de pássaros e
o burburinho das correntezas do Rio Alívio, que ao lado corre calmo, testemunha
silenciosa da existência de um projeto abortado.