Houve tempo, e por muito tempo, em que as empresas mantinham e valorizavam funcionários do tipo “faz tudo”. Era o cara que sabia de tudo um pouco, quebrava uma tomada, ele trocava, quebrava um balcão, ele colava, pagava contas no banco, fazia compras no mercado para a patroa, lavava o carro do patrão, engraxava o sapato dele e, quando sobrava tempo, fazia o serviço para o qual fora realmente contratado, no melhor exemplo do clássico pelego.
Ainda há muitos deles trabalhando por aí, servindo a
“patronagem” no jeito moderno dos moldes dos antigos escravos. E fazem tudo
sorrindo, pois nas cabeças desses pobres viventes eles são “mais” que
empregados, são considerados “quase que da família” e não conseguem perceber que
são usados como trapo, pois no dia que não servirem mais para o tal do “pau pra
toda obra”, vão ser mandados embora como qualquer outro que não serve mais aos
interesses da empresa.
Muitas vezes, já se ouviu que o patrão valoriza mais quem os
enfrenta de “mano a mano”, sem medo de olhar nos olhos, exigindo o devido
respeito. É uma grande verdade, pois todos os que se dão valor são respeitados.
Porém, há quem goste de bajuladores, puxa-sacos, pelegos do dia a dia, daqueles
que ao sair dizem ao chefe: se espirrar enquanto eu estiver fora, saúde!
A linhagem dos baba-ovos está acabando aos poucos, com as
especializações do trabalhador. Na medida em que ele se prepara para as
atividades que desempenha, se desprende do paternalismo que ainda resta. Quanto
mais aprende, mais fica independente e também muito mais produtivo, o que é bom
para a empresa. Só não atende perfeitamente às exigências daqueles que querem
mais que um funcionário, querem um serviçal, sempre pronto a atender uma
ligação na madrugada, ou em pleno domingo, sem contar que precisa estar sempre
à disposição para levar a madame no mercado ou as crianças do patrão na escola.
Se essas enumeradas não forem as atividades contratadas do
empregado, ele está fazendo algo para agradar a chefia, portanto, é pelegagem,
puxa-saquismo do mais puro sangue.
Por falar em empregado, está aí uma palavra que muitas
empresas evitam usar, no mais puro eufemismo do mundo moderno. Preferem chamar
os funcionários de “colaboradores”.
Ora, é preciso analisar a expressão “colaborador” no lugar
de palavras como “funcionário” ou “empregado”, porque o termo pode ser
utilizado para esconder a assimetria na relação de trabalho. Para existir uma
colaboração real, é preciso que haja um equilíbrio de forças, o que não
acontece em uma relação entre empresa e trabalhador. O uso de “colaborador”
pode ser uma forma de camuflar as tensões nas relações de trabalho. A expressão
pode levar o trabalhador a se esquecer de sua condição de submissão, que não
deixa de existir mesmo quando uma empresa é mais participativa. Em alguns
casos, o termo pode ser manipulado pelas empresas até para suprimir direitos
trabalhistas.
Portanto, trabalhar é dar parte de conhecimento em troca de
pagamento ajustado previamente. Servir patrões com trabalho não especificado no
contrato é servir sanguessugas, com medo de ser mandado embora.
“Como cidade derribada que não tem muros, assim é o homem
que não tem domínio próprio”, (Pv 25:28). Todo mundo sabe que, no fim da linha,
o prêmio de puxa-saco é pé no traseiro.
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