Passei muita vontade de comer esse tal de Galak lá pelos anos 60. Tudo que minha mãe podia comprar era paçoquinha ou uma maria-mole. Eu juntava litros e garrafas vazias para vender e comprar doce. Saia pedindo nas casa, mas em cada uma tinha um moleque fia da puta que fazia o mesmo: "eu tamém tô juntano pra comprar paçoca". Era só o que dava pra comprar. Galak era doce de rico. Além de garrafas, eu juntava lombrigas, de tanta vontade de comer um chocolate daqueles. Eu sonhava com a merda do Galak, chegava a ter febre de tanta lombriga. As garrafas eu vendia, mas as áscaris lumbricoides só saiam à força, de metro.
sábado, 4 de junho de 2022
Chocolates e lombrigas
quinta-feira, 2 de junho de 2022
Minha primeira câmera
Hoje está muito fácil fotografar. Basta um telefone celular com câmera e, clic! Fazer clique na câmera já era fácil nos anos 70, complicado era sair fotografando com os altos custos da revelação dos filmes. Em preto em branco era caro, colorido então, era o olho da cara. Esta da foto é a Kodak Xereta que vinha com um flash descartável para quatro cliques. Era um saco ter que esperar uma semana para ver as fotos, que, na maioria das vezes, ficavam uma bosta. Tudo preto, borrado, sem foco ou com as cabeças cortadas. Abrir os envelopes com as fotos reveladas era sempre uma emoção que, na maioria das vezes, era motivo de decepção.
Só pra contrariar
Entretanto, o que mais me incomoda é que ninguém lê mais
nada além de títulos. Se ficasse apenas nisso estava bom. O pior é que além só
lerem mal e porcamente os títulos, já saem dando pitacos contrários. A moda
agora e ser contra qualquer coisa.
O filósofo Jean Jacques Rousseau disse uma frase
interessante que explica esse comportamento: "Sabe-se a que ponto o ódio
fascina os olhos". Ele estava explicando que, para julgar corretamente as
pessoas, é preciso manter-se igualmente afastado dos preconceitos e das paixões
relativas ao objeto do juízo. Então, não é inteligente, nem educado, opinar ou
querer interpretar algo de que não se tem pleno conhecimento. E o que mais se
vê é comentários absolutamente desconexos do assunto tema, ou simples frases
que não concordam com as afirmações ditas, por simples falta de entendimento,
ou pelo prazer de não concordar.
Há ainda os que discordam de qualquer coisa só porque não
gostam de quem escreveu. Estes são os invejosos da pior espécie, pois, na falta
de competência, buscam substituir suas fraquezas num ato mesquinho de tentar
ofender, como se isso diminuísse o talento ou a inteligência de alguém. São uns
coitados que vivem apanhando de si mesmos na escuridão da Caverna que Sócrates
descreveu à Glauco. Só verão a luz quando um raio cair sobre suas cabeças.
Estamos diante de uma geração maravilhada com um mundo que
lhes dá alternativa demais, em questão de dias. Assim, alguns se acham
conhecedores de tudo e de todos, só pelo fato de terem um mundo nas mãos,
através de um telefone. O ruim é que a maioria não sabe o que fazer com tanta
informação e, muitas vezes, provocam confusões por causa de uma ignorância
funcional, aquela que nos faz julgar o que nem mesmo vimos, ouvimos ou
sentimos. Nós, os com mais de 50, tivemos tempo de degustar e deglutir cada
invenção. Do cantar do galo para o rádio foram séculos. Do rádio para a
televisão demorou mais de 30 anos, três gerações. Da TV para o Youtube se passaram
77 anos! Foram quase 8 gerações. O primeiro disco popular de vinil surgiu em
1948. Somente em 1979, os jovens puderam ouvir músicas num fone de ouvido pelas
ruas, nos famosos Walkman. Um espaço de 31 anos!
A partir de então, a tecnologia começou a andar cada vez
mais rápida. O Walkman era na fita cassete, que foi engolida, junto com vinil,
pelo CD, em pouco tempo. O pendrive substituiu esse último e o aparelho de
telefone celular é a última palavra no momento em som e imagem. Toda semana tem
lançamentos de aparelhos mais modernos. Mal se comemora o tal do 5 G e os
cientistas já trabalham no desenvolvimento do Beyond 5G, algo muito superior à
última tecnologia. O futuro já chegou para muita gente e tanta tecnologia dá um nó na cabeça da moçada.
Mas não é só isso. Antes, os jovens sonhavam ser
advogados, médicos, engenheiros e outras profissões que enchiam os pais de
orgulho. Hoje, o sonho da maioria é fazer sucesso nas redes sociais com a
produção de conteúdos. Ou seja, está todo mundo num caminho que não depende só
de estudo e conhecimento, mas de um complexo que precisa reunir várias
habilidades ao mesmo tempo. E isso nem todo mundo tem. Mas, já que há a
oportunidade, não custa tentar. Quem sou eu pra dizer o contrário?
Texto de Clóvis de Almeida 2022


