quarta-feira, 6 de julho de 2022

Peito aberto: minha cirurgia no coração


O objetivo desta crônica, base de um vídeo, é agradecer publicamente o trabalho e dedicação do Dr. Marcelo Pandolfo e toda sua equipe no hospital do Coração de Cascavel (Hospital Nossa Senhora da Salete) Paraná, quando da minha cirurgia cardíaca, realizada em junho de 2022.

Da mesma forma, contar como foi a minha experiência ao passar por essa chamada “operação de ponte de safena”, para que possa servir de informação às pessoas que estão se preparando para o mesmo tipo de cirurgia.

*Assista ao vídeo*
*O texto continua abaixo*

Antes de ser operado, assisti à alguns vídeos com o mesmo tema, feito por pessoas que também fizeram a mesma intervenção. Achei muito importante, como os vídeos do gaúcho do canal Ecoesporte, no Youtube, que já conta dois anos de operado e uma série de vídeos contando sua recuperação ao longo do tempo.

Como, cada caso é um caso, resolvi contar como foi comigo, porque são muitos os detalhes e intercorrências que variam de paciente para paciente. Assim, espero que a minha experiência possa ajudar alguém a ter mais paciência para ser operado e aguentar o tranco depois da operação, como me ajudou o gaúcho. O link do canal dele está na descrição do meu vídeo, no Youtube.

Há tempos eu vinha sentindo dores no peito ao caminhar, seguidas de apertos e como se estivesse queimando. Essas dores eram centralizadas no tórax, ou acima, perto dos ombros, ora de um lado, ora de outro. Ao caminhar, sentia muito cansaço.

Ao me consultar com um cardiologista, Dr. Celso Violin, foi realizado um eletrocardiograma e um eco cardiograma. Pelos dois exames, Dr. Celso concluiu que precisa de mais informações e me pediu que fizesse o exame da esteira

Na realização, eu teria que caminhar numa esteira por 30 minutos. Aguentei somente três minutos. Pedi para parar porque não aguentava de dor e queimação no centro do peito.

Com isso, fui encaminhado para o Dr. Marcelo Pandolfo, em Cascavel-PR, que me enviou para o exame de cateterismo.

Caiu como uma bomba no meu colo a conclusão desse exame e o anúncio do médico, ao afirmar que, primeiro, eu teria que ser operado e, segundo, que eu havia tido um enfarto do miocárdio. Tive, mas não sabia até então. Até hoje fico a pensar em quando é que pode ter acontecido. Relacionei alguns episódios de angina, dor no peito e queimação, mas não cheguei a nenhuma data específica. Pode ter sido um dia que, no meio da caminhada tive que parar e me sentar embaixo de uma árvore, até passar uma forte dor no peito. Pode ter sido ali.

Assim, meu toráx seria aberto para uma cirurgia no coração: o médico, Dr. Marcelo e sua equipe fariam em mim uma ponte mamária, semelhante à conhecida ponte de safena.

Eu estava com uma coronária entupida, que não permitia a colocação de stent, a famosa molinha que dilata o local entupido para a passagem do fluxo sanguíneo. Era uma oclusão total da artéria descendente anterior. Conforme o laudo do cateterismo, havia ainda uma outras 3 artéria que apresentavam irregularidades parietais.

Bem, a solução para a artéria entupida era abrir o tórax para fazer o desvio do sangue, com uma ponte feita com veia – safena, mamária ou radial. Fui informado que a ponte mamária seria mais indicada e que dura por mais tempo, além de ser mais forte que a safena.

Para entender melhor, nesse tipo de cirurgia, se for uma veia da coxa e perna, chamada de veia safena, chamamos de ponte safena. Se for uma artéria do tórax chamada artéria mamária interna, chamamos de ponte mamária e se for utilizada uma artéria do antebraço chamada artéria radial, é então ponte radial.

No hospital em que eu fui operado, havia inúmeros outros pacientes com o mesmo tipo de cirurgia. Eu percebi que, na ponte de safena, os pacientes reclamavam um pouco de dores nas pernas, no local onde fora retirada a veia safena. E eles caminhavam com um pouco mais de dificuldade pelos corredores do hospital. Como não tive essa intervenção de retirada de veias nas pernas, eu caminhei mais cedo e com firmeza normal.

A minha cirurgia estava marcada para o dia 14 de junho/22. Porém, não foi possível por falta de vaga na UTI, em razão de uma emergência surgida no hospital. Ficou então para a semana seguinte, uma segunda feira, dia 20.

Assim, fiquei uma semana no hospital, sem fazer nada, só comendo, bebendo e dormindo para não perder a vaga de UTI, que é obrigatoriedade após a cirurgia.

Foi ótimo ter ficado lá esse período antes da operação, pois, no ambiente onde só se falava desse assunto, com dezenas de pacientes com o mesmo problema, fui observando gente voltar da UTI já operado e outros que se convalesciam esperando a hora de voltar pra casa. Foi uma escola de preparação psicológica muito grande.

Isso, porque o medo da cirurgia é grande, pelo menos para mim foi. O medo de não voltar da anestesia faz a gente pensar na possibilidade iminente da morte. Mas, entreguei na mão de Deus.

Na hora em que eu estava sendo levado na maca, subindo a rampa de acesso à sala de cirurgia, me deu uma crise de choro. Então eu disse, meu Jesus, minha vida está em suas mãos! E assim ficou. E assim continua!

Chegando na sala de cirurgia, fui colocado na mesa. A partir daí, me lembro de estar olhando aquelas luzes dos refletores que ficam acima do paciente. Me aplicaram um soro e, em menos de 30 segundos, apaguei.

Nas próximas cinco horas foi como eu se não tivesse existido. De nada me lembro, nem de sonhos.

Acordei na UTI, entubado e com fios de monitoração pra todo lado. O barulhinho do monitor principal fazia aquele melancólico pip, indicando que meu coração funcionava direitinho.

Foi um alívio perceber que eu estava vivo!

Não sei quantas horas depois, mas deve ter se passado umas oito horas. Aquele tubo na minha garganta incomodava demais, não podia falar, não conseguia dormir mais. Comecei a acenar para que retirassem e só ouvia do médico e enfermeiros: calma, já vamos retirar.

Mas a parte do tubo que ficava na minha boca começou a me trancar a respiração e fui perdendo o fôlego. Foi então que comecei a mexer mais do que já vinha fazendo. Até que veio alguém, não sei se médico ou enfermeiro, e começou a retirar aquela tubulação.

Primeiro cortou algo segurava o tudo na minha boca e avisou: vou retirar o tubo, você vai respirar sozinho. E cortou a ligação da minha respiração artificial que vinha de uma máquina de ventilação mecânica.

Respirei então sozinho. Graças a Deus, não precisaria ficar mais um minuto na UTI por causa de respiração, ao ouvir: o senhor está respirando sozinho!

Que alívio!

Mas o pior veio em seguida.

Me avisaram: vamos retirar o tubo, respira fundo.

Inseriram um tubo mais fino dentro do que estava em mim, mais ou menos uns 40 centímetros. Esse tubo menor era para sugar as secreções traqueais e orais.

Foi o pior momento de toda internação e cirurgia. A retirada me provocou uma situação de pânico por que tive náuseas, ânsias de vômitos seguidas durante uns 30 segundos. Me pareceu estar virando do avesso.

Mas passou e em seguida uma sensação de tranquilidade enorme. Eu estava respirando sozinho e podia falar novamente sem o incômodo do tubo.

Meus rins funcionam perfeitamente. Isso ajudou na recuperação. Enquanto estava na UTI, eliminei mais de 11 litros de urina pela sonda direto na bexiga. Isso evitou que eu inchasse, como observei em um outro paciente, que ficou todo inchado, principalmente braços e pernas.

Foram vários litros de soro enquanto estive na UTI. A eliminação completa de líquidos me permitiu levantar e andar mais rápido.

Foram dois dias na UTI e me levaram para o quarto. Fui de cadeira de rodas, empurrada por meu filho Giovanni, que chegava para me acompanha no quarto. Na UTI não é permitido acompanhantes. Foi um passeio agradável pelos corredores, porque a fase mais crítica ficava para trás, na Unidade de Terapia Intensiva.

No terceiro dia de quarto, pronto para ir embora, surgiu um probleminha. Após caminhar sozinho pelos corredores do hospital, deitei para descansar. Foi um cochilo rápido e acordei ouvindo o coração pulsar na cabeça e uma sensação de agonia.

Por sorte, por Deus, meu médico chegou na hora.

Diagnosticou e, em seguida, comprovou com um eletrocardiograma, realizado ali mesmo no quarto, se tratar de uma FA (fibrilação atrial), uma arritmia frequente no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Segundo a literatura médica que pesquisei, atinge até 20% dos pacientes de cirurgia cardíaca.

O coração sai de ritmo e dispara. Minha pulsação chegou a 198 batimentos por minuto. Com a medicação imediata, logo normalizou.

Dois dias depois eu vim pra casa.

Hoje, 16 dias após a cirurgia, me sinto muito bem. Já estou de alta do processo cirúrgico. A partir de agora serei acompanhado por outro médico, pelo menos mês a mês, até completar 6 meses. Já visitei o Dr. Celso Violin para contar como foi a cirurgia. Ele me informou que o Dr. Marcelo já havia lhe informado de como foi a operação para irrigação do miocárdio em mim.

Estou caminhando de manhã e de tarde pelo bairro, normalmente, num percurso de uns 400 metros de cada vez.

A cicatrização é demorada, mas o corte na pele já está seco. Dói um pouco no local que foi aberto, afinal, o osso chamado esterno que liga as costelas foi serrado e tudo foi aberto como uma janela que se abre para os dois lados. Nada que não seja suportável e a cada dia dói menos.

Preciso de ajuda para me levar da cama ou do sofá quando me deito. É segurança para não usar os braços, porque eles forçariam o peito, uma vez que existe o risco de abrir com um esforço que normalmente usamos ao nos levantar. Também uso um colete para caminhar, dá mais segurança.

Estou tendo problemas para dormir, porque, por 90 dias terei que dormir de barriga para cima, não posso me virar dos lados para não forçar as costelas contra o osso esterno, o que foi serrado ao meio. Sempre dormi de lado. Mas se todos os problemas fossem esse, eu seria o homem mais feliz do mundo.

E assim vamos indo.

Eu pretendo voltar em breve com uma nova crônica e um novo vídeo para contar como está sendo minha recuperação. Espero que tenho ajudado. Perguntas podem ser feitas nos comentários que responderei com prazer. Um abraço e fiquem com Deus!


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