Em algum canto de minhas lembranças ainda ecoam os anúncios e as músicas nos alto falantes pendurados nos postes ao longo da Avenida Tupãssi, no sotaque dos anos 60, onde a música de viola e a orquestra de Billy Vaughn davam o tom de cada dia, do alvorecer ao fim da tarde, culminando com a tradicional Ave Maria das seis, onde a fé era muito maior que hoje.
Aqueles dias foram o ponto
inicial da comunicação em Assis Chateaubriand. Logo veio uma rádio clandestina
e o jornal Clarim Chateaubriandense, que mais tarde se transformaria em dois: O
Regional e O Jornal.
Os dias se passaram, a rádio
pirata fechou e o alto falante dos postes retornou ao auge, até ser fechado com
a chegada da Rádio Jornal.
Já era o fim dos anos 70 e o
rádio vivia os últimos suspiros do glamour, onde o locutor dava autógrafos e
recebia carta com dinheiro no envelope.
O requinte do rádio FM chegou na
década seguinte com a Rádio Pitiguara, abrindo caminho na frequência modulada
para uma nova emissora que assumiria boa parte da audiência regional. Era a
Rádio Vale Verde que chegava sem avisar, mas fazendo um alarde nunca visto,
tamanha a aceitação e sucesso que lhe acompanhou desde o primeiro minuto no ar.
Com a necessidade de expansão, em
razão da grande audiência, a Vale Verde se instala em Assis, com estúdio, sede,
mala e cuia. Assis Chateaubriand mais uma vez receberia a que se intitula Emissora da Família
de braços abertos.
Nos quase 50 anos da história de
Assis, muitas mídias vieram e se foram. Outras, pequenas, cumprem o papel da
comunicação segmentada, seja em periódicos semanais, mensais ou na internet.
Em algum canto ainda ecoa o
prefixo de abertura do “serviço de alto falante em gravações variadas”. Não é
preciso ouvidos para ouvir. Para quem viveu as vozes da cidade no tempo basta
lembrar.
A música de abertura invadia a
cidade deixando tudo mais importante do que realmente era, fazendo-nos prestar
atenção nos pássaros, nas pessoas indo ao trabalho, no barulho da hora e nas
mães aos berros com o menino atrasado para a aula. O “bom dia” era a certeza de
que éramos felizes, mas não sabíamos.
Tudo isso contribuiu para revelar
grandes nomes da comunicação, vozes do rádio. Muitos foram para outros endereços distantes e alguns já moram no além. Dos pioneiros do microfone em Assis Chateaubriand, que faziam comunicação antes de 1980, não há nenhum na ativa. Ou se aposentaram, ou morreram.
O universo vai ecoar pela eternidade os sons dos postes, mantendo para sempre as razões, alegrias ou tristezas de um povo que respirava dias melhores, na esperança de um dia viver melhor na cidade que plantaram.
“Com esse prefixo musical encerramos os trabalhos de hoje para voltar amanhã”, dizia o locutor, empostando a voz num microfone antigo, avisando a gente que o dia terminara. Era um misto de tristeza em ver o sol ir embora com a alegria de saber que no dia seguinte a música do poste nos alegraria com o alvorecer de mais uma manhã.

Nenhum comentário:
Postar um comentário