segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Mais um passinho pra trás!


Trago hoje um recorte muito interessante publicado em uma edição do jornal ‘O Clarim Chateaubriandense’, de março de 1974. É a publicação dos horários de ônibus que a Viação Umuarama mantinha naquela época. A quantidade de veículos que partia de Assis Chateaubriand para outros destinos justificava os mais de 140 mil habitantes que o município possuía. Você pode até não acreditar, mas, só a Viação Umuarama mantinha mais de 50 horários diários de ônibus (havia ainda os da Expresso Nordeste, com quase o mesmo tanto de partidas).

A cada 20 minutos partia um ônibus para distritos e municípios vizinhos ou distantes, se iniciando às 6 horas da manhã e fechando o dia às 23 horas, com a última partida.

Na lista de horários publicada no jornal, figuram os destinos dos ônibus com seus respectivos horários, deixando transparecer o grande movimento que ligava o comércio de Assis Chateaubriand com o interior do município e outras localidades, como Cascavel, Umuarama, Palotina, Alto Piquiri, Terra Roxa, Guaíra, Iporã e Toledo, onde distritos e patrimônios listam também. Palmitolândia, Cidade JS (assim era chamado), Via Cruz do Sul, Brasilândia (ainda distrito de Umuarama), Bucalão, Ouro Preto, Ouro Verde, Tupãssi, Via Pimenta, Ramal Luar, Ramal 247, São Pedro, Bragantina, Linha Seca, Cidade Nice e Ercilândia.

Os distritos de Encantado do Oeste, Terra Nova e Engenheiro Azaury não eram atendidos pela Viação Umuarama, mas pela Expresso Nordeste, assim como o município de Nova Aurora, Cafelândia, Formosa do Oeste e os então distritos de Jesuítas e Iracema do Oeste.

A cidade era um formigueiro de gente que se apinhava para tomar os ônibus na rodoviária e nos diversos pontos de parada. Um movimento que fazia girar muito dinheiro, que começava nos bares de chegada com a venda de salgados, frutas e bebidas. Nos horários de partidas eram a mesma coisa.

Gente com pacotes de roupas, sacos com mantimentos e toda sorte de compras feitas nas lojas da cidade.

Era muito comum viajar nos ônibus ao lado de gente carregando litros de leite, potes de manteiga, sacos com linguiça, mandioca ou milho verde. Eram produtos da roça que seriam vendidos na cidade. Alguns traziam até porcos e galinhas já limpos.

Uma das coisas que mais me chamava a atenção era o alicate do cobrador que perfurava as passagens. Não sei porque, mas eu sempre quis ter uma daqueles.

Os ônibus eram chamados de pinga-pinga, por causa das centenas de paradas que faziam para subir e descer gente. A cada vez que o ônibus ia freando para subir ou apear um passageiro, a poeira que se fazia atrás penetrava pelas janelas, entupindo todos com um canudo da terra vermelha. A gente descia parecendo um tatu, de tão sujo que ficava durante a viagem.

Era um povo feliz que não se incomodava em viajar em pé nas jardineiras lotadas e nem com aperto que se fazia entre passageiros. “Mais um passinho pra trás!”, dizia o cobrador quando ia subir mais um. Como, se já não havia mais o que apertar?

E assim iam os ônibus que traziam e levavam pessoas e suas esperanças nos caminhos poeirentos do sertão paranaense.

Ao contrário da frase famosa que afirma que a gente era feliz e não sabia, eu garanto que eu era feliz e tinha conhecimento disso.

 

//// Por Clóvis de Almeida, 2022 ////

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