domingo, 4 de dezembro de 2022

Estou me rifando para casar

Sou um rapaz de bom caráter, bonito, garboso, com todas as perfeições físicas que podem agradar qualquer mulher. Porém, não tenho dinheiro para o casamento. Por isso, me ofereço da seguinte maneira: Vou fazer um sorteio da minha pessoa num concurso de rifa com 600 números, onde podem concorrer solteiras, donzelas e viúvas, com menos de 32 anos de idade. O preço de cada bilhete é de mil reais. A feliz ganhadora terá direito à minha pessoa e ao prêmio da rifa, sendo que, para receber o dinheiro terá que me desposar primeiro. Os bilhetes estão à venda na casa de loterias no centro da cidade.

O anúncio acima foi publicado no jornal “O Spectador Brasileiro”, do Rio de Janeiro, com data de 05 de julho de 1824, com o título original de “Casamento por uma rifa”.

Como não é assinado por ninguém e com um chapéu de editoria nominado “Micelâneas”, é bem provável que seja uma brincadeira, ou “pilhéria”, como se dizia na época, um assunto publicado como “calhau”, texto qualquer para tampar um buraco a fim de fechar a página do jornal, já que foi estampado no final da última coluna.

Mas, chama a atenção pela ideia original. Nos dias de hoje, provavelmente não daria certo. Mas há 200 anos, quem sabe? Os casamentos tinham por obrigação o tal do dote, pago pelo pai da noiva. Assim, muitas moças pobres ficavam sem se casar por falta de dinheiro. E, se eram pobres, também não conseguiriam comprar a rifa, uma vez que o valor real pedido era de 20 mil réis, em 1824, algo em torno de 120 mil reais, no dinheiro de hoje, 2022.

O jornal de quatro páginas é a terceira edição do periódico publicado pela gráfica do governo imperial, com o objetivo de falar da vida diária do imperador Dom Pedro, de política, comércio e registrar fugas de escravos, algo comum na imprensa daquela época.

Fica a dica: está sem grana para se casar? Rife-se! Como sempre há uma tampa para uma panela, não vai faltar doida (ou doido) que arrisque um “zóio”. Vai que dá!

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