sábado, 5 de março de 2022

Ignorância contamina por osmose

 Por Clóvis de Almeida

Os dicionários descrevem assim o analfabeto funcional: “indivíduos incapazes de demonstrar muita dificuldade para compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidades de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas”.

Inclui-se nesta lista também aqueles que replicam uma informação qualquer, simplesmente porque acham que ninguém mais sabe.

Sempre se soube que o Brasil possui uma camada muito grande de analfabetos funcionais, mas o advento das redes sociais revelou que o número deles é bem maior. Pior que isso, mostrou que há muita gente que ninguém imaginava ser um deles, por possuírem uma imagem de cultura, embora não demonstrassem na prática. Essas pessoas jamais deveriam escrever nos faces e whats da vida, sem antes reciclar seus pensamentos quadrados, retrógrados rançosos ou cheios de discriminações.

Não se trata de tentar descontruir a subjetividade de ninguém, pois tudo o que é opinião pessoal precisa ser respeitado. O que se fala nestas linhas é sobre um monte de concepções que em nada ajudam o girar do mundo. Há pessoas que passam horas digitando kkkk sem saber do que estão rindo, ou retransmitindo conceitos que podem até ser prejudiciais.

Os analfabetos funcionais triplicam coisas qualquer coisa que achem interessante, sem saber se são verdades ou mentiras que irão prejudicar alguém, ou até um monte de gente, acreditando piamente e inocentemente que estão fazendo alertas, como se fossem autoridades para tal.

Não basta ter a certeza de que algo faz mal, é preciso ter formação acadêmica para dizer que tipo de perigo representa determinada situação complexa, embora não pareça. Existem assuntos que só o bom senso não é suficiente para decidir se é bom ou ruim, como por exemplo, os que envolvem questões de Justiça, Ciência e até mesmo religião.

Não é a mesma coisa que avisar alguém para tomar cuidado ao andar com uma bolsa pendurada no ombro ou dizer que uma tomada pode dar choque se alguém enfiar ali o dedo. São coisas diferentes que não compete a qualquer um dar pitacos como se suas expertise fosse o mais importante.

As redes sociais foram criadas, segundo seus criadores, para aproximar as pessoas em seus círculos de amizade. Mas o ser humano é afoito demais, dá-lhe a mão, pega-lhe logo o pé. Por isso, essas redes são, hoje, usadas como palco de show, consultório, boteco, loja, farmácia, zona ou como conselheiras sentimentais, além do tudo o resto que se possa imaginar, ou além da imaginação.

Até aí tudo bem, não há porque não estender o leque de utilidades, porém, as pessoas precisam ficar nos seus quadrados. Não é porque se pode digitar qualquer coisa que todo mundo pode ser jornalista e fazer notícia, ser médico e dar diagnósticos ou virar “fazedor de opinião” de uma hora para outra. Aliás, essa história de “fazedor de opinião”, “youtuber”, “influencer”, está ficando risível. Outro dia, alguém citou um analfabeto funcional como se fosse uma dessas “new personalidade”. É muita bobagem desfilando na vertical.

Mas, isso tudo tem um lado bom: a democracia. Pena que é doído ter de aguentar os funcionais. Não vai demorar e eles terão essa função regulamentada, com direito à aposentadoria.

Viu, isso é contagioso, ignorância contamina por osmose. Deus nos livre!

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