sábado, 5 de março de 2022

Ler não significa entender

 As redes sociais da internet fazem nosso assunto de hoje, e, mais uma vez, até porque são elas que compõem o maior número de comunicação entre pessoas, por incrível que possa parecer. Poucos conversam pessoalmente, se comparados com milhares de pessoas que passam a maior parte do tempo recebendo e dando respostas a conversas virtuais, banalidades na grande maioria.

Mas o que nos trás de volta ao assunto é uma pesquisa da Universidade Oxford, da Inglaterra, que acaba de ser divulgada. O universo pesquisado envolveu vários países, inclusive o Brasil. No geral, a pesquisa revelou que a maioria das pessoas não acredita nas informações replicadas pelas redes sociais. Elas responderam que acreditam na imprensa. Porém, no Brasil, ainda é considerável o número de gente que não sabe diferenciar uma informação verdadeira de um boato. São 21%, segundo a pesquisa, que acredita em qualquer bobagem lida e replica nas redes sociais, como se fossem novidades e verdades absolutas. O que denota uma ignorância que não deveria haver em tamanho número, pois 21% significa que temos, no país, 43 milhões de ignorantes alimentando besteiras na internet. Um número que combina com os políticos mal escolhidos, com o sucesso das novelas, dos programinhas barrelas de televisão, com a quase extinção de cinemas, teatros, bancas de jornais, livros e revistas, com a diminuição de leitores e com o respeito de uns pelos outros. A tecnologia está engolindo as pessoas tal qual o mar toma uma ilha aos poucos. O que deveria ser aproveitado como crescimento é mais diversão do que utilidade, pois, computadores e celulares na mão da maioria é só um brinquedo ou ferramenta fútil.

Mas, como se diz por aí, ruim com isso, pior sem isso. Não se chega ao fim de um caminho se não se iniciar a caminhada, o que significa dizer que cada coisa tem sua hora e lugar para acontecer.

No início do século passado, o número de analfabetos era assustador. Quem pensa que o quadro mudou muito, se engana. Não estamos falando de analfabetos funcionais, que se apinham em qualquer lugar, por mais que pareçam aculturados. O analfabeto citado aqui é aquele que não sabe ler, existente num número muito grande ainda no Brasil. O interior tem a maior quantidade, mas eles estão também pelos grandes centros, e não só nas periferias.

O que se entende por ler não é apenas o conhecimento de juntar letras, formar palavras e dar sentido às frases. Ler significa entender o que a frase quer dizer. E aqui é onde mora o problema, pois uma grande parte da população não consegue entender frases com mais de cinco palavras. É quase inacreditável, mas é a mais pura verdade. Quando surge uma palavra diferente do cotidiano, a coisa piora ainda mais, pois além de não entender, o analfabeto de leitura tem vergonha de dizer que não sabe, por isso não pergunta e continua sem saber. Um cursinho de Letras, em Manaus, fez um teste em uma fábrica, distribuindo um bilhete impresso para cada funcionário no portão de saída, na tarde de uma segunda-feira, com a seguinte informação: “o dia posterior ao que seguiu ontem não teremos expediente como prêmio de produção”. Resultado: apenas 15% deles buscaram informações na portaria e 60% foi trabalhar normalmente no outro dia. Ou seja, calcula-se que 75% por cento não entendeu que o “dia que seguiu ontem” é hoje e o posterior só poderia ser amanhã.

O pior de tudo é que há quem torça para que a situação fique pior. Educação e cultura significa o fim de lucros para muita gente.

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