sábado, 5 de março de 2022

Longe do povo tudo pode acontecer

 Muitas câmaras de vereadores e prefeituras estão investindo cada vez mais nas Audiências Públicas. Qualquer assunto é motivo para convocar a sociedade a fim de discutir o tema proposto, com dois vieses, o de ouvir o que os interessados têm a dizer e anunciar o que se pensa do assunto. É uma grande maneira de dar destaque a um projeto de lei que se pretende implantar no município, ou mudar algo que já existe na biblioteca que rege tudo o que é pertinente nas normas que regem o povo, a cidade e suas coisas. É uma forma muito inteligente de tentar dar valor a qualquer pensamento, por mais simplista, ingênuo ou interesseiro que seja, pois, abrindo discussão ampla aos “simples mortais’, tudo pode saltar de mera bobagem a uma grande “sacada”, ou de brilhante ideia a um nada em meio à coisa nenhuma. É só uma questão de lançar discussão, baseando se num pensamento que pode ou não servir para alguma coisa.

Para muita gente, as audiências públicas são um pé no saco, mas deveriam ser mais respeitadas, pois se trata de um instrumento máximo da democracia, onde cada opinião é ouvida, passível de ser acatada a ponto de mudar os destinos de uma nação, quiçá de uma cidade.

Pena que a maioria da população não dá o menor valor para essas audiências. Há exemplos de quilos, onde discussões importantes que poderiam ter tomado rumos mais democráticos e republicanos foram decididos por dois ou três que se acharam no direito de, sem necessidade alguma, mudar nomes de ruas, de bairros, praças, mãos de direção no trânsito, datas de festas públicas e até assuntos mais importantes. Tudo porque “ninguém” apareceu na audiência, a não ser os obrigados por função, apesar de convites no rádio, jornais, televisão, alto falante e até ligações telefônicas para os mais interessados. Tudo em vão. Na hora, só restou ao responsável, bater o martelo e dizer: como ninguém está nem aí, será como a gente quer e ponto final. E foi, e está sendo! Quem achar ruim depois, que vá falar ao bispo, com todo respeito a Vossa Reverendíssima.

Do Império Romano até hoje, pouca coisa mudou quando se fala em chamar o povo para discutir problemas comuns. A frase “pão e circo para o povo” foi dita há muito tempo pelo imperador romano Vespasiano, quando da construção do Grande Coliseu. Naquela época, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem para a cidade. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais, e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panis et circenses”, a política do pão e circo.

Assim sendo, dá lhes show de sertanejos de graça! Falta só o pão, mas esse um jeitinho aqui, outro ali, resolve.

Alguns acomodados dizem que elegem seus representantes para não ser incomodado o tempo todo. Não deixam de ter razão, mas se esquecem de que seus escolhidos podem mudar o rumo das promessas feitas, o que quase sempre acontece. Fiscalizar não é só dever do vereador, é de todo cidadão com consciência de que, longe do povo, tudo pode acontecer. E acontece!

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