O menino na espera que a mãe corrija a tarefa da escola e a caçulinha lá no berço com a fralda cheia aguardando os cuidados maternos. Alguém chama há horas no portão e o feijão quase queima na panela. Enquanto isso, a mãe dedilha no celular e ri das milhares de bobagens no Whatsaapp ou Facebook da vida. A empregada faz a mesma coisa, diminuindo a diferença social entre as duas com os conteúdos ingênuos das mensagens que fervilham na internet, mas que poucos têm coragem de dizer pessoalmente, tolhidos pela timidez do frente a frente ou pela indiferença pessoal que mascara o modo de ser de quase todo mundo moderno.
Mas não é só em casa. Quem com ferro zapeia, com zap zap será ferido, é a nova lei, pois no mundo comercial vemos a mesma coisa, ao sermos preteridos pelo balconista que não nos vê até que tiremos sua atenção do teclado maldito que lhe tira do trabalho, ato que pode ser interpretado como roubo do tempo pago pelo patrão, que do alto de sua cadeira mandante na sala refrigerada, dedilha mensagens cheias de erros de gramática e envia filminhos pornográficos para o deleite dos amigos.
Na escola, a professora perde tempo ao ensinar Pitágoras, pois, para os alunos, o mais importante que a soma dos catetos é anexar a foto do “gato” da mesa ao lado. Nos ônibus, metrôs e afins, se ninguém se olhava, agora é que ninguém vê ninguém, pois o celular está sempre na cara de todo mundo, que anda como zumbi, escancarando sorrisos retardados, diria alguém do início do século passado, quando não havia esse objeto que atrai até a alma de quem o possui.
O pensador John Donne eternizou que “nenhum homem é uma ilha. Ele é completo em si próprio. Cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo”. Mas parece que a ideia não cabe mais no mundo de hoje, pois o que se vê em todo lugar são “ilhas” flutuantes num universo cotidiano, onde cada um vive por si, olhando os outros por uma janela que impede qualquer contato físico, se protegendo daquilo que o homem sempre teve medo: o ser humano.
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