Nossos feitos não ficam velhos quando fazem marcas profundas
no mundo em que vivemos, seja para grandes multidões ou a um mundinho pequeno e
insignificante para a maioria, que só a nós diz respeito.
Eis aí o grande motivo para se marcar presença em cada passo
que se vive. É possível escolher se queremos ser lembrados pelos castelos que
ajudamos a erguer, semeando felicidades, ou se pelos escombros que colocamos
abaixo, enterrando esperanças alheias.
A cada passo que damos, fazemos sulcar um rastro com nossas
marcas, um carimbo que contém tudo aquilo que imprimimos com nossas ações. É
como uma gota de água que se espatifa ao cair do telhado. Seu peso, por menor
que seja, faz um vazio no poça d’água ao esparramar o volume que naquele espaço
havia. Porém, não é só esse buraco que a goteira provoca. A gota se divide em
milhões de gotículas para todos os lados, espargindo-se num spray que molha o
redor, que varia conforme o volume de água espalhada.
Assim somos nós. Para cada palavra dada, um universo inteiro
pode ser movimentado no espaço em que é ouvida. Pode ser para o bem ou para o
mal, embora não percebamos, na maioria das vezes. Uma simples brincadeira pode
provocar um turbilhão de ofensas para uma vida toda. É preciso cuidado com as
palavras, pois elas podem ferir mais do que uma lâmina afiada e, uma vez
emanada, pode ser impossível de apagar, mesmo porque, palavras ditas não se
apagam, o máximo que podemos fazer é esquecer que as ditamos. Porém, o problema
já não somos mais nós, mas sim quem as ouviu. Nem sempre desculpas diminuem o
som e o peso de algo dito.
Alguém já disse que uma palavra escrita pode ser passageira,
mas uma besteira dita é eterna, porque faz eco no universo, se espalhando e se multiplicando
como a gota que cai do telhado. Vai mudando de forma e diminuído o tamanho, mas
não deixa de ser besteira que ofende.
Clóvis de Almeida 2022

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