domingo, 24 de julho de 2022

A eternidade guarda tudo o que fazemos

Tudo aquilo que somos não é absolutamente nada diante de um mundo que nos reserva pouca coisa no presente e as prateleiras da eternidade só guardam espaço para o que fazemos, de bom ou desprezível.

Nossos feitos não ficam velhos quando fazem marcas profundas no mundo em que vivemos, seja para grandes multidões ou a um mundinho pequeno e insignificante para a maioria, que só a nós diz respeito.

Eis aí o grande motivo para se marcar presença em cada passo que se vive. É possível escolher se queremos ser lembrados pelos castelos que ajudamos a erguer, semeando felicidades, ou se pelos escombros que colocamos abaixo, enterrando esperanças alheias.

A cada passo que damos, fazemos sulcar um rastro com nossas marcas, um carimbo que contém tudo aquilo que imprimimos com nossas ações. É como uma gota de água que se espatifa ao cair do telhado. Seu peso, por menor que seja, faz um vazio no poça d’água ao esparramar o volume que naquele espaço havia. Porém, não é só esse buraco que a goteira provoca. A gota se divide em milhões de gotículas para todos os lados, espargindo-se num spray que molha o redor, que varia conforme o volume de água espalhada.

Assim somos nós. Para cada palavra dada, um universo inteiro pode ser movimentado no espaço em que é ouvida. Pode ser para o bem ou para o mal, embora não percebamos, na maioria das vezes. Uma simples brincadeira pode provocar um turbilhão de ofensas para uma vida toda. É preciso cuidado com as palavras, pois elas podem ferir mais do que uma lâmina afiada e, uma vez emanada, pode ser impossível de apagar, mesmo porque, palavras ditas não se apagam, o máximo que podemos fazer é esquecer que as ditamos. Porém, o problema já não somos mais nós, mas sim quem as ouviu. Nem sempre desculpas diminuem o som e o peso de algo dito.

Alguém já disse que uma palavra escrita pode ser passageira, mas uma besteira dita é eterna, porque faz eco no universo, se espalhando e se multiplicando como a gota que cai do telhado. Vai mudando de forma e diminuído o tamanho, mas não deixa de ser besteira que ofende.

Clóvis de Almeida 2022

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