Tudo começaria com a inscrição, que provavelmente seria
preenchida pela assessoria de São Pedro, o homem que guarda a chave de entrada.
Como, presume-se, do outro lado não existe dinheiro, a garantia de participação
nas provas poderia ser um número determinado de orações, que se faria de
joelhos, ali, na fila. No caso de uma reza mais forte, haveria de troco uma
foto do santinho do dia, quem sabe.
Na parte mais difícil, para responder as questões, a alma recém
chegada deveria estar com as respostas na ponta da língua. Sem essa de acertar só
a metade e já vai entrando. Nada disso! Só valeria cem por cento de acerto, ou
como se diz: gabaritar.
As perguntas estariam todas relacionadas à vida do
vestibulando e à sua estada aqui na terra. Todas as questões seriam respondidas
com apenas duas alternativas, ou seja, sim ou não. Nada que ele não saiba,
seria apenas uma questão de lembrar de todos os momentos vividos. Mentir não
vale, pois cada prova é individual, em todos os sentidos. Você era bom? Dava
esmolas? Matou? Roubava velhinhos? Olhou as pernas da vizinha? Ficava de olho
no bumbum do padre? Roubou? Ficou anos sem fazer nada? Votou para o presidente errado?
E por aí vai.
Na verdade, se assim fosse, na primeira pergunta o candidato
já teria a certeza que seu destino seria o inferno.
Mas tem um porém: se no céu também tiver o jeitinho
brasileiro, é melhor não fazer a prova. Depois a gente faz uma redação, uma
entrevistazinha, paga a matrícula e pronto, entrada garantida.
Estranho? Não estranhe, é assim em muitas faculdades e com
alguns cursos. O sujeito perdeu, ou finge que perdeu o vestibular, faz a tal
redação e está dentro do curso, com os mesmos direitos daquele que se matou
para não “zerar” em matemática, português ou outra matéria qualquer, daquelas
provas que demoraram a tarde toda e muita “ralação”, até serem entregues na
esperança de boas notas.
Acho que o vestibular do céu não aceitaria tamanha mamata
que deixa de lado o esforço de tanta gente. Talvez seja por isso que, dizem, no
céu só tem gente boa.
Sabemos que no vestibular não é certeza de estar na lista
dos melhores, pois, “jogar no bicho” também vale e muita gente não precisaria
nem de redação para ingressar em um curso universitário, porém, o que talvez alguns
não entendam, é essa diferença nos quesitos de entrada. Não seria mais fácil
exigir apenas a redação para todos? Ora, se em 30 linhas o candidato se mostra
apto a ingressar na academia, o vestibular serve para provar o quê mesmo?
Confesso que não sei. Se tivessem alternativas, quem sabe,
eu responderia.
Será que São Pedro aceitaria só uma redação. Como Deus é
brasileiro, quero que a entrevista seja com ele, afinal, com o nosso “jeitinho”
brasileiro a gente vai longe.
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