quinta-feira, 14 de julho de 2022

Passa amanhã que eu pago

 

A inadimplência do comércio é sempre uma das grandes preocupações dos lojistas. Em época de festa o problema aumenta, pois as pessoas gostam de ficar bonitas, bem vestidas, comer um pouco melhor e divertir-se também, afinal, ninguém é de ferro. Na hora de pagar as suaves prestações mensais é que a onça bebe água e o lojista fica a ver navios. E não adianta cobrar. Tem gente que se esconde em baixo da cama e manda dizer que não está ou que não mora mais ali.
É irresistível ver na vitrine aquele sapato, calça, vestido, bolsa ou a blusinha com descontos especiais. No fim de 15 minutos de compra tem-se uma sacola de ofertas que vão para a caderneta pra nunca mais serem pagas. E o pior é que o vendedor, na maioria das vezes, sabe disso. E por que vende então?
"Olha que moça bonita, mais cheia de graça". Linda, mas embrulhada com vários carnês de prestações. A blusa de grife é da butique da esquina, calça de marca famosa, sapato da liquidação de verão, bolsa Louis Vuitton no carnezinho e a calcinha comprada da moça que vende roupas em casa. Tudo fiado, até o penteado e o corte de cabelo feitos no salão do bairro. As unhas, feitas pela prima, pra pagar com lavagem de roupa. Até nisso ela vai dar o cano.
Hora de sair à noite. No bolso da calça Armani ou da blusa Colcci, uma nota de dez “pilas” pra tomar duas latinhas com a colega que traja um vestido vermelho encarnado, comprado no Shopping de Toledo, em cinco pagamentos, com cheques da patroa, que também compra e não paga. Cinco chiquitas que vão voltar do banco nos próximos meses.
Ao longe, surgem os dois bonitões que vão ficar com as duas gatinhas até amanhecer o dia. Eles já tomaram três rabos de galo cada um e deram um "tapa" no potinho de pinga fofa-toba do amigo que veio pra festa com eles, no mesmo busão.
Na segunda-feira a vida continua. Chegam os boletos na loja e o gerente se descabela com o caixa baixo. O fornecedor quer dinheiro e o cobrador liga pra saber quando vai receber. A culpa das notinhas do fiado acaba sendo da vendedora que vendeu sem autorização. Coitada! Só faz o que patrão permite.
Enquanto isso, a moça bonita já pensa no próximo fim de semana. Pega o celular que comprou sem entrada e ainda não pagou a terceira prestação vencida. “Alô, Zildinha, vamos na balada sábado? Eu te empresto minha saia da Daslu Jeans. Sábado vou comprar outra na loja nova que abriu. Eles estão em promoção de inauguração e fazem em dez vezes no crediário, sem entrada e sem cadastro”.
É mais um que vai perder.
Para a nossa moça bonita tudo é festa! As contas que se danem.


(por Clóvis de Almeida)

Nenhum comentário:

Postar um comentário