domingo, 16 de outubro de 2022

Todo mundo é feliz no Facebook

 

Estou tão feliz! É mentira, mas no Face todo mundo é feliz, bonito, ganha bem, come carne, ri de tudo e não tem boletos. Esta é uma das frases de passatempo que escrevi no Facebook, cujo tema é bastante debatido por ser a rede social uma tela de tudo aquilo que muitas pessoas gostariam de ver de si próprias, mas que não refletem a realidade. É a eterna busca da felicidade, mesmo que seja de mentirinha.

Muita gente já escreveu sobre isso e não tenho a pretensão de filosofar no assunto, nem de ser inédito. Mas, vendo as notícias sobre a produção de vacinas contra o coronavírus, em 2020, fiquei imaginado o trabalho que os cientistas estavam tendo em conseguir algo que fosse realmente motivo de se orgulhar, não pelo ineditismo do ato ou do estrelato que pudesse gerar, mas pelo bem que poderia causar em toda a humanidade. Trabalhar e criar uma arma para destruir um inimigo tão terrível, como esse vírus do corona, é uma ação tão grande como quando o Superman ou o Batman salvam o mundo desviando um super meteorito que iria destruir a terra.

Como em toda e qualquer história da civilização, e não podia ser diferente, temos poucos heróis para tanta gente. Somos bem servidos de mentes inteligentes que trabalham inventando coisas, mas, como sempre, a maioria tem o pensamento voltado para o social, desenvolvendo meios de como fazer as pessoas se comunicarem, seja no âmbito pessoal para os simples relacionamentos, seja para as transações comerciais, onde se dar bem na arte de vender e ganhar dinheiro é o sonho da maioria. A cada minuto, surge alguém com uma “grande” proposta para ficar rico trabalhando pela internet. Poucos não se dão conta de que nada é tão simples e fácil como querem nos fazer crer.

Temos pouca gente desenvolvendo tecnologias que não levam ao brilho dos holofotes, como o dos engenheiros que estão desenvolvendo técnicas que captam energias do sol, do vento e das ondas do mar. O que fazem os cientistas em benefício de novas vacinas e remédios é muito pouco mostrado.

Talvez pela falta das luzes da ribalta é que faltam gente no combate ao câncer, à aids, ao coronavírus e ao que hoje chamamos de “simples gripe”. Basta dizer que ainda não existe cura para a herpes, fibromialgia ou vitiligo. A queda de cabelo é outro problema que deixam os carecas apenas com tratamentos caríssimos, que nem sempre dão certo.

Por outro lado, os aplicativos de relacionamentos pessoais estão cada vez mais sofisticados. O WhatsApp foi uma revolução, mas já está ameaçado por concorrentes, que dizem ser melhores, como Telegram, Viber, Hangouts, Kakao Talk, Groupme ou talvez outro nascido nas últimas 24 horas. Esse tipo de invenção surge com velocidades incríveis. Por isso, o homem se comunica melhor a cada dia, mas as soluções poderiam ser divididas por necessidade e não apenas pelo lucro imediato. Porém, não há como mudar isso enquanto o homem buscar aplausos em vez do orgulho de apenas fazer o bem.

(Texto para o Facebook 2020 - Por Clóvis de Almeida)

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

É preciso lavar as mãos depois de balançar

Corre pela internet mais um daqueles e-mails com curiosidades que não sabemos realmente se são úteis ou o contrário. Desta vez o alvo são as bolsas das mulheres, que, por serem postas em tantos lugares, como, chão de banheiro, carregam um potencial gigante de elementos infectantes e nocivos à saúde.

Não deixa de ser verdade, mas se partimos para preocupações tão detalhistas do nosso dia a dia, chegaremos à conclusão que o melhor é ficar em casa, dentro de uma redoma de vidro, sem nenhum contato com o mundo exterior.

Porém, alguns costumes no levam mesmo a pensar melhor. Tenho minhas dúvidas quanto ao número de pessoas que lavam as mãos depois do que fazem no banheiro. As mulheres têm a vantagem, se quiserem, de não precisar tocar no instrumento do “xixi”, depois de se aliviarem. É só esperar pingar tudo e vestir a roupa novamente. Se pinga tudo, não sei. Já o homem não consegue fugir da necessidade de pegar no pinto pra fazer o xixizinho.

Supondo que ambos, mulher e homem, tenham tido contato com o órgão urinário, precisam lavar as mãos. Caso não o façam, podem expor urina, bactérias e até vírus, ao tocarem outras pessoas.

Numa festa, por exemplo, é um entra sai de banheiros sem fim. Depois de vários goles, os homens só balançam o “pingolim” e voltam pra garrafa. Nessas balançadas, sempre uns respingos sobram para as mãos. Não é preciso dizer o que acontece em seguida.

Imagine o que ocorre numa comemoração de aniversário quando o aniversariante recebe cumprimentos de dezenas de pessoas. Num casamento, centenas de convidados pegam nas mãos dos noivos. Como saber quem lavou as mãos depois de tocar o “xixi”? Nesse troca-troca de mãos, milhares de seres microscópicos são repassados. O final dessa transação anti-higiênica é no jantar e no repartir do bolo. Não me lembro de ter visto noivos irem ao banheiro depois da igreja, mas já vi locais da festa sem pia para lavar as mãos. Só esfregar nas calças não adianta...

Quando cumprimentamos alguém na rua, no trabalho, numa confraternização, não temos como saber onde essa pessoa colocou as mãos. Num toque simplesmente cordial podemos ter contato com milhares de agentes nocivos, como a gripe, conjuntivite e outras doenças. Se não fosse verdade, não teríamos sido orientados a passar álcool nas mãos durante o medo coletivo da gripe suína, em 2009. Por pouco não chegamos a uma histeria naqueles dias. Há lugares públicos que até hoje mantém o frasco de álcool gel à disposição.

Riscos existem, mas não podemos fazer disso uma obsessão por higiene. Conheço pessoas que, bem antes da gripe do porco já tinham uma mania de limpeza quase doentia. Cumprimentam as pessoas com as pontas dos dedos e lavam as mãos com sabão assim que se vêem livre, independente da pessoa a quem cumprimentou. Chega a ser engraçado.

Há ainda a história de um político que leva um litro de álcool no carro para “desinfetar” as mãos depois de cumprimentar os eleitores durante a campanha eleitoral. Mas isso vou contar outro dia.

Temos então dois extremos; de um lado, os com mania de limpeza ou com medo de se contaminar, chegando até a serem portadores do transtorno obsessivo-compulsivo. Do outro, gente que não se preocupa em lavar as mãos nem para comer. Certo estão os japoneses, que não são muito dados ao cumprimento de mãos. O abaixar de cabeças é mais respeitoso, elegante e não contaminante. Devíamos aprender com eles.

No mundo digital somos todos piratas

As leis que protegem os direitos autorais são claras ao tornar infração ou até mesmo crime o uso não autorizado da criação alheia. Baseado nisso, fica evidente que o simples ato de escrever algumas linhas em um programa de computador cujo software não foi comprado e, que não seja de uso livre, nos torna infratores, piratas e, em alguns casos, criminosos. Talvez eu esteja exagerando na definição de um ato tão simples, como por exemplo, escrever no Word da Microsoft. Mas se é proibido usar sem autorização, é pirataria, infração ou crime!

Milhares de empresas utilizam os programas do Bill Gates sem pagar nada. São programas baixados pela internet, comprados no camelô da esquina ou cedidos por um amigo que também possui, de forma sorrateira, os famosos editores de imagem e áudio, como o Photoshop, Sound Forge, Adobe Premiere e tantos outros. Só no pacote do Office da Microsoft são nove programas de aplicações variadas. A série Windows é tão pirateada quanto os discos de músicas. Um estudo recente apontou que mais de 90% dos computadores no Brasil funcionam com Windows pirateado. Então, entre as pessoas que se utilizam de computadores, 90% são infratores ou usam de produtos pirateados sem saber.

Aquela foto baixada no Google e que ilustra ricamente o trabalho da faculdade ou do primeiro grau pode ser na verdade uma cópia ilegal. Mesmo estando disposta abertamente na rede mundial, talvez não disponha de autorização para uso, estando sujeita à reclamação de direitos por parte do autor.

A cada segundo alguém copia partes de textos ou uma obra inteira para apresentar como trabalho escolar, na maior cara de pau. Nem sempre o professor confere e o aluno ganha nota 10 nas costas de quem postou um suado serviço na internet.

Há variados cursos que ensinam como trabalhar com o Photoshop, Corel Draw, Excel, AutoCAD, Word e tantos outros programas profissionais fantásticos, no mundo da editoração eletrônica. Mas quantos desses alunos pagam pelo programa, comprando de um distribuidor autorizado? Para termos uma ideia, a licença mensal do Photoshop custa 90 reais. No entanto, são raras as pessoas ou empresas que pagam por esse que é o mais famoso dos editores de fotografia.

É raro também quem não tenha um disco ou pendrive “piratinha” da dupla ou banda preferidas ou games em casa, no porta luvas do carro ou no celular.

A Lei dos direitos autorais, no Artigo 104, afirma que “quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator”. Portanto, quem baixa na internet ou usa, tem culpa, tanto quanto quem produz ou vende a pirataria.
Enquanto existir vistas grossas para a lojinha e o camelô que comercializam a pirataria, estaremos irresistivelmente condenados a praticar a infração ou crime contra os direitos autorais, mesmo como co-autores, cientes ou inocentes do ato. Mas pior do que isso: Estamos sujeitos à pirataria da forma mais doída, que é quando nos roubam, tirando de nós o fruto de nossa intelectualidade. O produto de um trabalho é como um filho e quando nos tiram, dói na essência, dói na alma. É parte de nós surrupiada sem dó.


De artistas a picaretas

1976

Nos meus tempos de menino, o caminho da volta da escola pela Avenida Tupãssi empoeirada tinha uma parada obrigatória todos os dias: A Farmácia Estrela do seo Ivo Müller e dona Dalva. Num dos cantos de entrada, uma vitrola daqueles tempos rodava sem parar um dos discos do humorista Barnabé. Decorei todas as suas piadas, que até hoje são repetidas por novos humoristas. Penso que o show de humor gratuito era uma estratégia para atrair a freguesia, que se juntava numa estreita faixa de calçada sem calçamento. Era terra mesmo. Os meninos se sentavam na soleira da porta do salão de madeira e todos riam com as trapalhadas do caipira que não nunca veio em Assis. Morreu cedo, em 1968, de ataque cardíaco, enquanto fazia show num circo. Um irmão dele deu sequência na carreira, mas não com a mesma graça e sucesso. Outros o imitaram, mas sem fazer rir como o original fazia. Um deles foi o chateaubriandense Agenor Barbosa, antes de adotar o nome artístico de Paulo de Paula, que fazia shows pela região  com o nome de Barnabézinho.

A Assis dos anos 60 e 70 era uma rota de artistas que se apresentavam no Oeste do Paraná. Por aqui, pernoitaram muitos nomes famosos nas pensões e hotéis simples de uma cidade que crescia sem parar, mas não tinha asfalto. A chuva e o barro seguravam os viajantes até por semanas. Muitos “medalhões” fizeram suas cantorias nos bares da cidade, de graça, tomando cachaça, enquanto a chuva caia. A zona do baixo meretrício, conhecida Casa das Primas, também era ponto dos artistas. Nem sempre para cantar. O antigo Bar Tupãssi e muitos outros foram palcos de Brasão e Brasãozinho, Liu e Léo, Tião carreiro e Pardinho, Pedro Bento e Zé da Estrada, Belmonte e Amaraí, Mococa e Moraci, Léo Canhoto e Robertinho, Milionário e Zé Rico e, até Teodoro, ainda sem o Sampaio.

Léo Canhoto e Robertinho fizeram um show em um circo armado no local onde hoje está a torre da Telepar. Ficou gente pra fora, tamanho o público que foi assistir à peça teatral da música “Jack, o matador”.

Tonico e Tinoco se apresentaram em outro circo, também no centro da cidade. Depois vieram em 1972, para a campanha política do Almério, num show para milhares de pessoas, que ficou na história de muita gente.

Boa parte das dezenas de artistas que passavam por “essas bandas” não tinha fama e nem era artista de verdade. A maioria fazia parte da turma de picaretas que rodava o Brasil fazendo show de rua ou dando calotes no comércio. A cada 15 dias tinha um “homem da cobra” vendendo remédios homeopáticos em praça pública. Com um microfone sujo e ensebado de cuspe, pendurado no pescoço, reunia gente chamando por um alto falante jogado no chão. Enquanto demonstrava um produto num vidro, prometendo “curar tudo”, batia com uma vareta numa caixa, dizendo que ali havia uma cobra sucuri de 10 metros, um peixe elétrico ou um jacaré do pantanal. A multidão curiosa esperava até o fim para ver a surpresa, enquanto um ou outro comprava o remedinho com cheiro de hortelã, que não prestava pra nada. Quando o público começava a esvaziar plateia, o homem que dizia ser representante de laboratórios tirava um lagarto da mala e garantia que era um legítimo filhote de crocodilo da Amazônia. Quando muito, mostrava um peixe elétrico que acendia uma lampadazinha na ponta de dois fios que ele encostava no pobre bichinho. E a plateia adorava aquilo. Coitado do peixe!

As rádios do interior sofreram muito com os picaretas do microfone que passaram por nossa história. Vinham de longe e ficavam alguns meses, tempo suficiente para comprar fiado no comércio e sumir do mapa para sempre. Anoiteciam e não amanheciam, deixando um rastro de contas a pagar, de boteco à loja de móveis, passando pelo hotel e a mercearia que ficavam a ver navios.

O primeiro exemplo foi o próprio gerente que inaugurou a rádio Jornal, em 1978. Um tal de Lima veio de Brasília, a Capital, e levou embora uma Brasília novinha, o carro. Carregou ainda na mudança a mobília toda de uma casa montada, comprada no crediário e garantido pelos donos da rádio, que, além de perderem o automóvel do ano, tiveram que pagar as lojas, o mercado e o aluguel do malandro que anoiteceu e não amanheceu.

Tem ainda a passagem de um conhecido locutor vozeirão, bom de microfone pra caramba, que se associou a outro picareta local, metido a cantor. Ambos “bolaram” um festival de calouros e no dia do show fugiram com a grana dos ingressos, assim que o salão paroquial lotou de gente.

Outro, muito bom noticiarista, veio de longe pra aplicar o velho golpe da pomadinha. Num vidrinho de remédio injetável, que recolhia no lixo de farmácias, ele colocava vaselina líquida e vendia a idosos como excitante sexual. Ele abordava os velhinhos (e alguns jovens), dizendo que o era só passar o remedinho no bilau e viver horas de prazer com o moral “alto”. Dezenas de trouxas acreditavam e o malandro vendi vaselina que nem água no deserto. Afinal, era um locutor da rádio que estava vendendo, palavra que tinha crédito. Pior é que ouvi depoimentos de que o negócio funcionava mesmo. E não adiantava dizer à vítima que o efeito era só psicológico.

Em fim de ano chovia locutor de tudo o que era canto vendendo mensagens de Natal. Os caras já traziam os textos prontos, gravados em um rolinho de fita de rolo, que só rodava na rádio e numa fitinha K7 para mostrar aos lojistas. Era difícil uma vítima que não comprava.

Quem pensa que os picaretas acabaram, engana-se. Mas isso é história pra outro dia.