
*Antiga vila do Zé Lulu
O rádio já não é mais o mesmo, assim como os radialistas são simples mortais agora.
sexta-feira, 29 de julho de 2022
Radialista já foi artista
quinta-feira, 28 de julho de 2022
Chiado que fez história
Hoje é muito fácil assistir à televisão. São várias as mídias que possibilitam acessos aos canais abertos e pagos. Além do sinal digital das antenas de retransmissores locais, contamos com as parabólicas que nos trazem diversos canais. Pelos sinais pagos e aplicativos comprados ou de graça, temos televisão no celular ou em modernos aparelhos de televisão chamados de smart-tv. Poucas pessoas não têm acesso à televisão.
Mas, quem viveu os anos de colonização do sertão paranaense
sabe o que é não ter televisão ou, no máximo, uma imagem e som chiados,
parecendo uma caixa de abelha. Era cena comum ver pessoas em cima de telhados,
rodando antenas e gritando: “Agora pegou?”. E a resposta vinha de baixo:
“Volta, volta, mais pra direita!”. E nada de pegar nada.
Boa parte colocava a antena da televisão num cano em pé na
beira da janela. Um prego grande espetado num buraco do cano servia de manivela
para girar a antena, enquanto se acompanhava na tela a melhor posição, com
menos chuvisco.
Era o sinal da Televisão Tibagi, canal 11 de Apucarana, que
chegava em Assis Chateaubriand bem fraquinho, depois de passar por outras
repetidoras no meio do caminho.
A nossa repetidora era instalada em Jesuítas, por ser local
mais alto. Meu pai trabalhou na construção da casinha do transmissor.
Em preto e branco, com fantasmas e pontinhos parecendo neve,
era possível assistir à “Buzina do Chacrinha” e as novelas da Globo. Eu gostava
mesmo era dos seriados que passavam nas tardes. Em casa não havia televisão,
mas eu ia no meu tio Afonso Davanzo ou no bar do Luis Rato pra assistir
Ivanhoé, O Túnel do Tempo e Perdidos no Espaço. Havia ainda os jornais da
Tibagi, apresentado por Nelson Baltazar, um locutor vozeirão que balançava a
cabeça conforme formava as frases. Era engraçado.
Em 1975, a Prefeitura de Cascavel construiu uma repetidora
da Globo com uma maior potência. A partir de então, um sinal melhor vinha de
lá, no canal 8, com imagens da TV Cultura de Maringá. Foi então que a Tibagi se
despediu da região oeste.
Nesta época, um grupo formado por empresários e políticos de
Assis mexiam os “pauzinhos” em Brasília para viabilizar uma emissora de rádio
para Assis Chateaubriand. E a conquista veio naquele ano, quando o governo
federal outorgou a Rádio Tupãssi, nome provisório da que seria a Rádio Jornal
AM, três anos mais tarde. Uma conquista que não existe mais, assim como a TV
Piquiri, outra grande luta jogada no lixo. Esse é o fim de tudo o que acaba em
mãos de pessoas que não têm nenhuma afinidade com as conquistas alheias. O comprador de uma vaca de estimação só estimará o
bichinho enquanto ela tiver leite pra dar. Quando as tetas secam, o matadouro é
logo ali. Simples assim.
Por Clóvis de Almeida 2022
quarta-feira, 27 de julho de 2022
Com “jeitinho” entraremos até no céu
Tudo começaria com a inscrição, que provavelmente seria
preenchida pela assessoria de São Pedro, o homem que guarda a chave de entrada.
Como, presume-se, do outro lado não existe dinheiro, a garantia de participação
nas provas poderia ser um número determinado de orações, que se faria de
joelhos, ali, na fila. No caso de uma reza mais forte, haveria de troco uma
foto do santinho do dia, quem sabe.
Na parte mais difícil, para responder as questões, a alma recém
chegada deveria estar com as respostas na ponta da língua. Sem essa de acertar só
a metade e já vai entrando. Nada disso! Só valeria cem por cento de acerto, ou
como se diz: gabaritar.
As perguntas estariam todas relacionadas à vida do
vestibulando e à sua estada aqui na terra. Todas as questões seriam respondidas
com apenas duas alternativas, ou seja, sim ou não. Nada que ele não saiba,
seria apenas uma questão de lembrar de todos os momentos vividos. Mentir não
vale, pois cada prova é individual, em todos os sentidos. Você era bom? Dava
esmolas? Matou? Roubava velhinhos? Olhou as pernas da vizinha? Ficava de olho
no bumbum do padre? Roubou? Ficou anos sem fazer nada? Votou para o presidente errado?
E por aí vai.
Na verdade, se assim fosse, na primeira pergunta o candidato
já teria a certeza que seu destino seria o inferno.
Mas tem um porém: se no céu também tiver o jeitinho
brasileiro, é melhor não fazer a prova. Depois a gente faz uma redação, uma
entrevistazinha, paga a matrícula e pronto, entrada garantida.
Estranho? Não estranhe, é assim em muitas faculdades e com
alguns cursos. O sujeito perdeu, ou finge que perdeu o vestibular, faz a tal
redação e está dentro do curso, com os mesmos direitos daquele que se matou
para não “zerar” em matemática, português ou outra matéria qualquer, daquelas
provas que demoraram a tarde toda e muita “ralação”, até serem entregues na
esperança de boas notas.
Acho que o vestibular do céu não aceitaria tamanha mamata
que deixa de lado o esforço de tanta gente. Talvez seja por isso que, dizem, no
céu só tem gente boa.
Sabemos que no vestibular não é certeza de estar na lista
dos melhores, pois, “jogar no bicho” também vale e muita gente não precisaria
nem de redação para ingressar em um curso universitário, porém, o que talvez alguns
não entendam, é essa diferença nos quesitos de entrada. Não seria mais fácil
exigir apenas a redação para todos? Ora, se em 30 linhas o candidato se mostra
apto a ingressar na academia, o vestibular serve para provar o quê mesmo?
Confesso que não sei. Se tivessem alternativas, quem sabe,
eu responderia.
Será que São Pedro aceitaria só uma redação. Como Deus é
brasileiro, quero que a entrevista seja com ele, afinal, com o nosso “jeitinho”
brasileiro a gente vai longe.
A utopia da inocência
Ninguém nasce do nada e, por menos que tenha significado, o ventre já é uma família, o começo de tudo.
Uma casa construída sobre a areia vai cair com certeza. Ao
contrário, tudo o que cresce sobre bases sólidas tem mais chances de sobreviver
aos vendavais que desviam o ser humano dos caminhos do bom-senso, justiça e
solidariedade. Isso é o básico e todo mundo sabe, ou pelo menos deveria saber.
Vivemos cada vez mais reféns do medo de ser roubado,
assaltado, agredido ou morto. Vivenciamos adolescentes caindo no mundo do
crime, todos os dias. Tentar procurar as raízes dos problemas que afetam nossas
crianças e jovens é chover no molhado.
São tantos os problemas e cada caso é um caso. Mas uma coisa
pode se afirmar: Grande parte ou o todo dos males que levam à prática dos
crimes feitos por menores de idade está na família.
É claro que um pai ou mãe não fica ensinando a vida
criminosa aos filhos, mas os exemplos de desunião que muitos passam levam aos
caminhos tortos. O abandono, o álcool, as brigas de casais, a fome e o
desemprego desestruturam qualquer ambiente, levando crianças ao roubo, assalto,
drogas e à prostituição.
Dizer que a maior fonte dessas sequelas está na distribuição
desigual de rendas desse país é falar o óbvio, mas é ao mesmo tempo uma forma
de lavar um pouco as mãos. Não falar do assunto é não só lavar as mãos como
colocar a consciência de molho e fechar os olhos às crianças que pedem nas
esquinas e aos milhares de meninos e meninas que fogem das escolas por não
terem quem os obrigue a estudar.
Os fatos existem e é preciso encará-los de frente. Só
análises não resolvem o medo de ser assaltado, roubado, invadido, ou quem sabe,
morto. As leis são claras e precisas para preservar o menor de idade. Mas são
quase nada na missão de promover a recuperação de criminosos, independente da
idade.
É preciso que se pense logo em medidas que resolvam a
questão da idade para o crime. Se o
menor tem força para roubar é sinal que é forte o suficiente para assumir a
pena diante da sociedade que ele faz vítima.
Fazer cumprir as leis de hoje já não é suficiente diante do
tamanho da causa. Em algum lugar deve existir uma solução. O que não pode
continuar acontecendo é o cidadão se fechar em grades para não ser vítima de um
perigo que se esconde nas mãos do direito de uma inocência que só existe no
papel. Uma candura maquiada que esconde toda a verdade e os detalhes lapidados
na culpa, conhecida nos exemplos da convivência do submundo que pode estar ao
nosso lado. A falsa inocência, uma utopia legal.
·
Escrevi este texto há quase 15 anos. Estaria
atual se o mundo não tivesse piorado.
·
Por Clóvis
de Almeida 2009/2022
segunda-feira, 25 de julho de 2022
A leitura que não lemos hoje
Oscar Wilde era um gênio, conseguia ver quilômetros de anos
à frente do que vivia, mas acho que ele não previu o advento da internet e nem
das redes sociais, onde todo mundo se mete a fazer notícias, alguns dizendo que
são jornalistas, quando não sabem a diferença entre o fake e o fato.
Wilde não imaginava que as redes sociais seriam povoadas por
chuvaradas de “fontes” que se copiam, como vírus em expansão, fazendo com que o
jornalismo se renda com um refém, buscando os holofotes da fama rápida que os
cliques proporcionam, sem esmiuçar as informações recebidas para identificar
pelo menos um pingo de verdade. Do jeito que vem, vai. Os likes e os
compartilhamentos acabam sendo mais importantes do que um mínimo de verdade. É
nesse arremedo de notícias que se destacam os chamados “faits divers”, como naquela
“matéria” do Dr. Dráuzio Varela, onde ele abraça um estuprador preso, num
grande exemplo da notícia grotesca e passageira.
Então, meus neurônio pagãos decidiram que o jornalismo, nos
dias de hoje, é legível sim. Porém, sua leitura tem outra dinâmica, exigindo do
leitor mais do que saber ler. Mais do que a leitura, ele precisa também ter a
capacidade de análise e cruzamento de informações para um mínimo de checagem.
Na menor hipótese de não ser verdade o que ele acaba de ler, precisa buscar no
Google mais informações. Quase sempre encontra o desmentido, lhe abrindo os
olhos para mais um fake news. Quantos fazem isso?
Assim sendo, muito do jornalismo que se faz hoje é legível,
só não há garantia de que pode ser chamado de jornalismo.
Quanto à Literatura, Oscar continua sendo Oscar, um
exagerado. É que, como dantes, há muitos leitores que primam pela qualidade do
que escolhem para ler. Ocorre que esse é time que também gosta de privacidade e
não fica publicando aos quatro ventos o que está lendo hoje ou qual livro terá
na cabeceira amanhã. É uma questão mais fina, coisa que Wilde não ligava muito,
pois o negócio dele era fazer barulho nas multidões. Era mestre em criar frases
marcadas por ironia, sarcasmo e cinismo. Em seu romance “Retrato de Dorian Gray”,
Oscar fala da arte, da vaidade e das manipulações humanas. Em “O Fantasma de
Canterville”, critica o patriotismo da sociedade. Mas escreveu também contos
infantis com lições de moral para crianças.
Em maio de 1895, após três julgamentos, foi condenado a dois anos de cadeia,
com trabalhos forçados, por "cometer atos imorais com diversos
rapazes".
(Clóvis de Almeida – 2010-2022)
domingo, 24 de julho de 2022
A eternidade guarda tudo o que fazemos
Nossos feitos não ficam velhos quando fazem marcas profundas
no mundo em que vivemos, seja para grandes multidões ou a um mundinho pequeno e
insignificante para a maioria, que só a nós diz respeito.
Eis aí o grande motivo para se marcar presença em cada passo
que se vive. É possível escolher se queremos ser lembrados pelos castelos que
ajudamos a erguer, semeando felicidades, ou se pelos escombros que colocamos
abaixo, enterrando esperanças alheias.
A cada passo que damos, fazemos sulcar um rastro com nossas
marcas, um carimbo que contém tudo aquilo que imprimimos com nossas ações. É
como uma gota de água que se espatifa ao cair do telhado. Seu peso, por menor
que seja, faz um vazio no poça d’água ao esparramar o volume que naquele espaço
havia. Porém, não é só esse buraco que a goteira provoca. A gota se divide em
milhões de gotículas para todos os lados, espargindo-se num spray que molha o
redor, que varia conforme o volume de água espalhada.
Assim somos nós. Para cada palavra dada, um universo inteiro
pode ser movimentado no espaço em que é ouvida. Pode ser para o bem ou para o
mal, embora não percebamos, na maioria das vezes. Uma simples brincadeira pode
provocar um turbilhão de ofensas para uma vida toda. É preciso cuidado com as
palavras, pois elas podem ferir mais do que uma lâmina afiada e, uma vez
emanada, pode ser impossível de apagar, mesmo porque, palavras ditas não se
apagam, o máximo que podemos fazer é esquecer que as ditamos. Porém, o problema
já não somos mais nós, mas sim quem as ouviu. Nem sempre desculpas diminuem o
som e o peso de algo dito.
Alguém já disse que uma palavra escrita pode ser passageira,
mas uma besteira dita é eterna, porque faz eco no universo, se espalhando e se multiplicando
como a gota que cai do telhado. Vai mudando de forma e diminuído o tamanho, mas
não deixa de ser besteira que ofende.
Clóvis de Almeida 2022
sábado, 23 de julho de 2022
Os meus tempos dos gibis
quarta-feira, 20 de julho de 2022
Verdades e mentiras que fazem história
domingo, 17 de julho de 2022
Vai graxa aí, freguesia?
Um dos comércios que mais havia
em Assis nos 60 era pensão. Casas, salões e até sobrados, construídos em
madeira, com vários quartos, davam pousada aos milhares de aventureiros e
compradores de terras que vinham para a chamada última fronteira agrícola do
Paraná. Chegavam de jipe, caminhão, peruas ou até em lombo de burros, como é
caso de alguns pioneiros que vieram da região de Londrina, Paranavaí e Maringá.
Nas pensões, todos tinham abrigo
e comida farta, vendidos, é claro. A maioria dos negócios começavam ali e
terminavam nos loteamentos, urbanos ou rurais, que estavam sendo abertos.
Ninguém sabia o que era corretor de imóveis, mas sim "picareta", como
esses eram chamados, havia centenas.
Os taxistas tomavam o porre de
ganhar dinheiro transportando esse povo para conhecer sítios pelo interior do
município, que era muito grande. Começava no vilarejo de Terra Nova e terminava
no povoado de Brasiliana, hoje distrito de Tupãssi. Os mais velhos dizem até
hoje que, naquela época, corria dinheiro que nem água. E corria mesmo.
Um dos meus sonhos daqueles dias
era ser engraxate. Achava lindo, uma caixa de madeira nas costas, as mãos sujas
de graxa e o toc-toc da escova na madeira, avisando para o freguês trocar de pé,
ou que os sapatos estavam brilhando. Um sonho que durou somente um dia.
De tanto pedir a meu pai, ele fez
uma caixa de engraxar. Linda, pintada e leve. Com os apetrechos já dentro,
treinei na noite anterior umas escovadas no sapato dele. O mais difícil foi
aprender o batuque com o pano de dar lustro. O piá da esquina tocava até samba
no sapato com o pano dele. Dava até uns repiques que estalavam no ar. Aprendi
também, meia boca, mas aprendi.
Na manhã seguinte, lá estava eu
com a caixa nas costas, no meio da avenida, em frente a uma das pensões mais
movimentadas da cidade.
Bom ouvinte e observador, já
havia aprendido há tempos como os engraxates conquistavam o freguês.
— Vai graxa aí, freguesia? -
Perguntei ao senhor gordão, vestido de branco e com um chapéu de rico.
Encostado na parede de madeira da
pensão e sem perguntar quanto era, ele ameaçou esticar a perna, ao que eu
completei colocando a caixa no chão, acomodando um dos pés com sapatos pretos
do primeiro cliente.
Tirei a poeira com a escova
novinha e abri a lata de graxa. Decepção. Minha mãe não comprara uma graxa
nova, me deu a lata pela metade que meu pai usava em suas botinas. Pior, a cera
estava dura. A lata havia ficado aberta por dias.
Não consegui passar sequer uma
borrada de graxa no sapato do gordão, que me atingiu em cheio com um olhar de
reprovação, dizendo uma frase que só muitos anos depois eu consegui entender o
que ele quis dizer: Quem não tem competência não se estabelece.
Ainda não sei se a lição me
serviu para alguma coisa na prática, pois, muitas outras vezes dei com os
burros n'água por não planejar direito o dia seguinte. Mas, na teoria, ficou a
lição de que nada se faz sem planejamento. Se um dia vai servir, eu não sei.
Tem gente que apanha e não aprende nunca. Talvez seja o cerne da essência e,
mudar implique em ser outra pessoa. Coisa que pode não ser uma boa coisa. Deixa
assim.
Ao terminar a minha aventura de
engraxate por um dia, voltei pra casa desenxabido, joguei a caixa numa despensa
e até hoje nem meus sapatos eu engraxo. Embora essa caixa não mais exista, é na
lembrança dela que jogo tudo o que quero esquecer, só deixando sair como
palavras, porque a história precisa delas.
sexta-feira, 15 de julho de 2022
Copiar e colar é mais fácil
Os jovens deveriam agradecer todos os dias a invenção da internet. A maioria já nasceu com ela e não consegue imaginar como é viver sem esse milagre do mundo moderno. Quando a gente cresce com a tecnologia do lado é impossível mensurar a real importância dela.
Quem nunca estudou sob a luz de
uma lamparina nunca saberá como é a alegria de ver a luz elétrica se acender
pela primeira vez na cozinha de sua casa. Quem já nasceu numa casa com telefone
ou tinha ele no orelhão da esquina não imagina o que é ouvi-lo tocar pela
primeira vez somente depois de adulto. Só mesmo quem fez força no sarilho de um
poço para tirar água é que sabe o real valor de uma torneira em casa.
Não existe presente sem passado e
nem futuro sem presente. Isso, todos sabemos, mas o que nem todos valorizam é o
trabalho que a humanidade faz para fazer o hoje e o amanhã. Nada sai do nada e
tudo se modifica, se transforma. O que é novo agora será velho daqui a pouco. O
jovem de hoje será um ancião ultrapassado em poucos anos. Tem gente que não se
dá conta disso. O mundo é mundo rápido, tudo acontece sem que nos apercebamos.
A internet chegou como uma janela
escancarada para o universo inteiro. Uma fonte inesgotável de saber que se
amplia a cada segundo, com trilhões de informações e saberes, impossíveis de
serem calculadas.
E Google? Ah esse Google... Fonte
espetacular que, se bem usada, torna-se a melhor ferramenta cultural que o
mundo já viu. Ele responde a tudo e a todos. Raramente deixa alguém sem uma
resposta. Às vezes, nem clara, nem objetiva, mas responde. É um senhor
sabe-tudo, como o pai da gente, quando somos crianças, mas com a diferença de
que o Google sabe tudo mesmo!
Essa enciclopédia, dicionário,
consultor, médico, psiquiatra e outras coisas virtuais, é aquilo que chamamos
de "uma mão na roda", quando necessitamos de qualquer tipo de
informação. Mas pode ser também uma armadilha quando usada indevidamente.
Qualquer pessoa pode ter um
parecer, um conhecimento, um trabalho, uma foto ou qualquer informação
publicados na internet. De graça. Por isso, tem gente que acha que pode pegar
para si, como se fosse dona, sem sequer citar a fonte. Tem uns que até assinam
autoria, gabando-se de um feito alheio.
Esse barbarismo com a criação de
outrem chega a ponto de copiar trabalhos acadêmicos inteiros, matérias jornalísticas
em partes ou na totalidade e até, pasmem, editoriais de jornais, um artigo que
jamais poderia ser surrupiado, pois ele é a opinião do jornal. Quem copia
opinião é porque não tem uma própria e nem sequer possui identidade. É um
absurdo e, como tal, inaceitável.
A ousadia calhorda, ignóbil e
covarde chega a ponto de usar desse expediente para publicar na imprensa,
trabalhos que alguém dedicou horas, debruçado sobre um teclado, imprimindo
conhecimentos adquiridos ao longo do tempo, com estudo e dedicação.
Talento não se compra, não se
acha na esquina nem no lixo. Talento vem de berço e faz parte da alma. Um
verdadeiro presente de Deus que se lapida praticando, sem ter que roubar o suor
de ninguém.
Como na parábola de Jesus em
Mateus, até os dotados de poucos "talentos" [dinheiro ou dom?] devem
produzir e devolver mais do que receberam. Mas a falta de criatividade e
preguiça não mudou nos últimos dois mil anos.
Copiar e colar é muito fácil, mas
como se trata de uma mentira, tem pernas curtas. Um passo hoje e outro amanhã
são só prenúncios de que o escorregão vai chegar, deixando à mostra a falta de
escrúpulos de um preguiçoso que acha melhor copiar do que criar. Ou, no mínimo,
vai mostrar a incompetência de alguém que entra em um meio só porque acha bonito.
quinta-feira, 14 de julho de 2022
Passa amanhã que eu pago
A inadimplência do comércio é sempre uma das grandes preocupações dos lojistas. Em época de festa o problema aumenta, pois as pessoas gostam de ficar bonitas, bem vestidas, comer um pouco melhor e divertir-se também, afinal, ninguém é de ferro. Na hora de pagar as suaves prestações mensais é que a onça bebe água e o lojista fica a ver navios. E não adianta cobrar. Tem gente que se esconde em baixo da cama e manda dizer que não está ou que não mora mais ali.
É irresistível ver na vitrine aquele sapato, calça, vestido, bolsa ou a blusinha com descontos especiais. No fim de 15 minutos de compra tem-se uma sacola de ofertas que vão para a caderneta pra nunca mais serem pagas. E o pior é que o vendedor, na maioria das vezes, sabe disso. E por que vende então?
"Olha que moça bonita, mais cheia de graça". Linda, mas embrulhada com vários carnês de prestações. A blusa de grife é da butique da esquina, calça de marca famosa, sapato da liquidação de verão, bolsa Louis Vuitton no carnezinho e a calcinha comprada da moça que vende roupas em casa. Tudo fiado, até o penteado e o corte de cabelo feitos no salão do bairro. As unhas, feitas pela prima, pra pagar com lavagem de roupa. Até nisso ela vai dar o cano.
Hora de sair à noite. No bolso da calça Armani ou da blusa Colcci, uma nota de dez “pilas” pra tomar duas latinhas com a colega que traja um vestido vermelho encarnado, comprado no Shopping de Toledo, em cinco pagamentos, com cheques da patroa, que também compra e não paga. Cinco chiquitas que vão voltar do banco nos próximos meses.
Ao longe, surgem os dois bonitões que vão ficar com as duas gatinhas até amanhecer o dia. Eles já tomaram três rabos de galo cada um e deram um "tapa" no potinho de pinga fofa-toba do amigo que veio pra festa com eles, no mesmo busão.
Na segunda-feira a vida continua. Chegam os boletos na loja e o gerente se descabela com o caixa baixo. O fornecedor quer dinheiro e o cobrador liga pra saber quando vai receber. A culpa das notinhas do fiado acaba sendo da vendedora que vendeu sem autorização. Coitada! Só faz o que patrão permite.
Enquanto isso, a moça bonita já pensa no próximo fim de semana. Pega o celular que comprou sem entrada e ainda não pagou a terceira prestação vencida. “Alô, Zildinha, vamos na balada sábado? Eu te empresto minha saia da Daslu Jeans. Sábado vou comprar outra na loja nova que abriu. Eles estão em promoção de inauguração e fazem em dez vezes no crediário, sem entrada e sem cadastro”.
É mais um que vai perder.
Para a nossa moça bonita tudo é festa! As contas que se danem.
(por Clóvis de Almeida)
terça-feira, 12 de julho de 2022
Quando as letras eram pesadas
Duas toneladas. Era o peso da máquina de escrever que se usava em jornais até o fim da década de 1970. Quem pensa que é um exagero ou mentira de pescador engana-se. Não estou falando da máquina do redator, mas da que fazia as bases de impressão, os chamados lingotes de escrita. Eram barras de uma liga de chumbo, estanho e antimônio, de várias medidas, que compunham apenas uma linha de coluna, pesando até 200 gramas, a mais longa. Linotipo é nome do trambolho, que hoje é peça de museu.
segunda-feira, 11 de julho de 2022
O cliente sempre tem razão
Cliente sempre tem razão. Munícipes também.
domingo, 10 de julho de 2022
Uma cidade cheia de gente
A Rua Riachuelo é uma das mais movimentadas da cidade. Mas, muitos não sabem que ela já foi mais do que isso, um grande aglomerado de mercearias, um shopping de secos e molhados a céu aberto. Até a metade dos anos 70, aquela rua era o início da estrada para Cascavel e, talvez por isso, os comerciantes preferiam ali se estabelecer.
quarta-feira, 6 de julho de 2022
Peito aberto: minha cirurgia no coração
O objetivo desta crônica, base de um vídeo, é agradecer publicamente o trabalho e dedicação do Dr. Marcelo Pandolfo e toda sua equipe no hospital do Coração de Cascavel (Hospital Nossa Senhora da Salete) Paraná, quando da minha cirurgia cardíaca, realizada em junho de 2022.
Da mesma forma, contar como foi a minha experiência ao passar por essa chamada “operação de ponte de safena”, para que possa servir de informação às pessoas que estão se preparando para o mesmo tipo de cirurgia.
*Assista ao vídeo*
*O texto continua abaixo*
Antes
de ser operado, assisti à alguns vídeos com o mesmo tema, feito por pessoas que
também fizeram a mesma intervenção. Achei muito importante, como os vídeos do
gaúcho do canal Ecoesporte, no Youtube, que já conta dois anos de operado e uma
série de vídeos contando sua recuperação ao longo do tempo.
Como,
cada caso é um caso, resolvi contar como foi comigo, porque são muitos os
detalhes e intercorrências que variam de paciente para paciente. Assim, espero
que a minha experiência possa ajudar alguém a ter mais paciência para ser
operado e aguentar o tranco depois da operação, como me ajudou o gaúcho. O link
do canal dele está na descrição do meu vídeo, no Youtube.
Há
tempos eu vinha sentindo dores no peito ao caminhar, seguidas de apertos e como
se estivesse queimando. Essas dores eram centralizadas no tórax, ou acima,
perto dos ombros, ora de um lado, ora de outro. Ao caminhar, sentia muito
cansaço.
Ao
me consultar com um cardiologista, Dr. Celso Violin, foi realizado um
eletrocardiograma e um eco cardiograma. Pelos dois exames, Dr. Celso concluiu
que precisa de mais informações e me pediu que fizesse o exame da esteira
Na
realização, eu teria que caminhar numa esteira por 30 minutos. Aguentei somente
três minutos. Pedi para parar porque não aguentava de dor e queimação no centro
do peito.
Com
isso, fui encaminhado para o Dr. Marcelo Pandolfo, em Cascavel-PR, que me
enviou para o exame de cateterismo.
Caiu
como uma bomba no meu colo a conclusão desse exame e o anúncio do médico, ao
afirmar que, primeiro, eu teria que ser operado e, segundo, que eu havia tido
um enfarto do miocárdio. Tive, mas não sabia até então. Até hoje fico a pensar
em quando é que pode ter acontecido. Relacionei alguns episódios de angina, dor
no peito e queimação, mas não cheguei a nenhuma data específica. Pode ter sido
um dia que, no meio da caminhada tive que parar e me sentar embaixo de uma
árvore, até passar uma forte dor no peito. Pode ter sido ali.
Assim,
meu toráx seria aberto para uma cirurgia no coração: o médico, Dr. Marcelo e
sua equipe fariam em mim uma ponte mamária, semelhante à conhecida ponte de
safena.
Eu
estava com uma coronária entupida, que não permitia a colocação de stent, a
famosa molinha que dilata o local entupido para a passagem do fluxo sanguíneo. Era
uma oclusão total da artéria descendente anterior. Conforme o laudo do
cateterismo, havia ainda uma outras 3 artéria que apresentavam irregularidades parietais.
Bem,
a solução para a artéria entupida era abrir o tórax para fazer o desvio do
sangue, com uma ponte feita com veia – safena, mamária ou radial. Fui informado
que a ponte mamária seria mais indicada e que dura por mais tempo, além de ser
mais forte que a safena.
Para
entender melhor, nesse tipo de cirurgia, se for uma veia da coxa e perna,
chamada de veia safena, chamamos de ponte safena. Se for uma artéria do tórax
chamada artéria mamária interna, chamamos de ponte mamária e se for utilizada
uma artéria do antebraço chamada artéria radial, é então ponte radial.
No
hospital em que eu fui operado, havia inúmeros outros pacientes com o mesmo
tipo de cirurgia. Eu percebi que, na ponte de safena, os pacientes reclamavam
um pouco de dores nas pernas, no local onde fora retirada a veia safena. E eles
caminhavam com um pouco mais de dificuldade pelos corredores do hospital. Como
não tive essa intervenção de retirada de veias nas pernas, eu caminhei mais
cedo e com firmeza normal.
A
minha cirurgia estava marcada para o dia 14 de junho/22. Porém, não foi
possível por falta de vaga na UTI, em razão de uma emergência surgida no
hospital. Ficou então para a semana seguinte, uma segunda feira, dia 20.
Assim,
fiquei uma semana no hospital, sem fazer nada, só comendo, bebendo e dormindo
para não perder a vaga de UTI, que é obrigatoriedade após a cirurgia.
Foi
ótimo ter ficado lá esse período antes da operação, pois, no ambiente onde só
se falava desse assunto, com dezenas de pacientes com o mesmo problema, fui
observando gente voltar da UTI já operado e outros que se convalesciam
esperando a hora de voltar pra casa. Foi uma escola de preparação psicológica
muito grande.
Isso,
porque o medo da cirurgia é grande, pelo menos para mim foi. O medo de não
voltar da anestesia faz a gente pensar na possibilidade iminente da morte. Mas,
entreguei na mão de Deus.
Na
hora em que eu estava sendo levado na maca, subindo a rampa de acesso à sala de
cirurgia, me deu uma crise de choro. Então eu disse, meu Jesus, minha vida está
em suas mãos! E assim ficou. E assim continua!
Chegando
na sala de cirurgia, fui colocado na mesa. A partir daí, me lembro de estar
olhando aquelas luzes dos refletores que ficam acima do paciente. Me aplicaram
um soro e, em menos de 30 segundos, apaguei.
Nas
próximas cinco horas foi como eu se não tivesse existido. De nada me lembro,
nem de sonhos.
Acordei
na UTI, entubado e com fios de monitoração pra todo lado. O barulhinho do monitor
principal fazia aquele melancólico pip, indicando que meu coração funcionava
direitinho.
Foi
um alívio perceber que eu estava vivo!
Não
sei quantas horas depois, mas deve ter se passado umas oito horas. Aquele tubo
na minha garganta incomodava demais, não podia falar, não conseguia dormir
mais. Comecei a acenar para que retirassem e só ouvia do médico e enfermeiros:
calma, já vamos retirar.
Mas
a parte do tubo que ficava na minha boca começou a me trancar a respiração e
fui perdendo o fôlego. Foi então que comecei a mexer mais do que já vinha fazendo.
Até que veio alguém, não sei se médico ou enfermeiro, e começou a retirar aquela
tubulação.
Primeiro
cortou algo segurava o tudo na minha boca e avisou: vou retirar o tubo, você
vai respirar sozinho. E cortou a ligação da minha respiração artificial que
vinha de uma máquina de ventilação mecânica.
Respirei
então sozinho. Graças a Deus, não precisaria ficar mais um minuto na UTI por causa
de respiração, ao ouvir: o senhor está respirando sozinho!
Que
alívio!
Mas
o pior veio em seguida.
Me
avisaram: vamos retirar o tubo, respira fundo.
Inseriram
um tubo mais fino dentro do que estava em mim, mais ou menos uns 40
centímetros. Esse tubo menor era para sugar as secreções traqueais e orais.
Foi
o pior momento de toda internação e cirurgia. A retirada me provocou uma
situação de pânico por que tive náuseas, ânsias de vômitos seguidas durante uns
30 segundos. Me pareceu estar virando do avesso.
Mas
passou e em seguida uma sensação de tranquilidade enorme. Eu estava respirando
sozinho e podia falar novamente sem o incômodo do tubo.
Meus
rins funcionam perfeitamente. Isso ajudou na recuperação. Enquanto estava na
UTI, eliminei mais de 11 litros de urina pela sonda direto na bexiga. Isso
evitou que eu inchasse, como observei em um outro paciente, que ficou todo
inchado, principalmente braços e pernas.
Foram
vários litros de soro enquanto estive na UTI. A eliminação completa de líquidos
me permitiu levantar e andar mais rápido.
Foram
dois dias na UTI e me levaram para o quarto. Fui de cadeira de rodas, empurrada
por meu filho Giovanni, que chegava para me acompanha no quarto. Na UTI não é
permitido acompanhantes. Foi um passeio agradável pelos corredores, porque a
fase mais crítica ficava para trás, na Unidade de Terapia Intensiva.
No
terceiro dia de quarto, pronto para ir embora, surgiu um probleminha. Após
caminhar sozinho pelos corredores do hospital, deitei para descansar. Foi um
cochilo rápido e acordei ouvindo o coração pulsar na cabeça e uma sensação de
agonia.
Por
sorte, por Deus, meu médico chegou na hora.
Diagnosticou
e, em seguida, comprovou com um eletrocardiograma, realizado ali mesmo no
quarto, se tratar de uma FA (fibrilação atrial), uma arritmia frequente no
pós-operatório de cirurgia cardíaca. Segundo a literatura médica que pesquisei,
atinge até 20% dos pacientes de cirurgia cardíaca.
O
coração sai de ritmo e dispara. Minha pulsação chegou a 198 batimentos por
minuto. Com a medicação imediata, logo normalizou.
Dois
dias depois eu vim pra casa.
Hoje,
16 dias após a cirurgia, me sinto muito bem. Já estou de alta do processo
cirúrgico. A partir de agora serei acompanhado por outro médico, pelo menos mês
a mês, até completar 6 meses. Já visitei o Dr. Celso Violin para contar como
foi a cirurgia. Ele me informou que o Dr. Marcelo já havia lhe informado de
como foi a operação para irrigação do miocárdio em mim.
Estou
caminhando de manhã e de tarde pelo bairro, normalmente, num percurso de uns
400 metros de cada vez.
A
cicatrização é demorada, mas o corte na pele já está seco. Dói um pouco no
local que foi aberto, afinal, o osso chamado esterno que liga as costelas foi
serrado e tudo foi aberto como uma janela que se abre para os dois lados. Nada
que não seja suportável e a cada dia dói menos.
Preciso
de ajuda para me levar da cama ou do sofá quando me deito. É segurança para não
usar os braços, porque eles forçariam o peito, uma vez que existe o risco de
abrir com um esforço que normalmente usamos ao nos levantar. Também uso um
colete para caminhar, dá mais segurança.
Estou
tendo problemas para dormir, porque, por 90 dias terei que dormir de barriga
para cima, não posso me virar dos lados para não forçar as costelas contra o
osso esterno, o que foi serrado ao meio. Sempre dormi de lado. Mas se todos os
problemas fossem esse, eu seria o homem mais feliz do mundo.
E
assim vamos indo.
Eu
pretendo voltar em breve com uma nova crônica e um novo vídeo para contar como
está sendo minha recuperação. Espero que tenho ajudado. Perguntas podem ser
feitas nos comentários que responderei com prazer. Um abraço e fiquem com Deus!
segunda-feira, 4 de julho de 2022
Nos tempos das carroças










