Um copo com água pela metade está meio cheio ou meio vazio. A opinião correta não é uma coisa nem outra, mas sim a visão de cada um. Assim é a maioria dos acontecimentos do dia a dia. Mas, não é de hoje que quem mais coloca em evidência esse paradoxo é a imprensa, ao evidenciar um fato ou simplesmente ignorá-lo, quando muito, ao amenizar o que a opinião contrária gostaria de ver em manchetes garrafais.
O papel do jornalismo deveria ser como o que seu código de
ética ensina: ser imparcial ao extremo, procurar ver a verdade e só a verdade
lhe interessar. Mas isso é utopia e vai contra o que a maioria dos estudantes
de jornalismo imaginam fazer ao terminar a faculdade. Descobrem no primeiro
emprego que o sonho de mudar o mundo contando somente a verdade dos fatos é um
sonho que se sonha só, impossível, pois é nesta hora que ele descobre que a
imprensa tem dono: o patrão que o emprega, pois essa “entidade” tem lados, tem
amigos no poder ou aliados contra quem manda no mundo ao seu redor. Ao
descobrir que não pode nadar contra a maré, só tem um jeito: nadar a favor dela
ou sair da água.
Todo esse “floreio” é para explicar as razões do porque
muitas emissoras de televisão, rádio, jornais e revistas deixam de mostrar as
manifestações públicas e greves como elas realmente são. Quando certas mídias
usam eufemismos em palavras ou simplesmente deletam fatos importantes, elas
estão, simplesmente, atendendo aos interesses do patrão, que, jamais permitiria
contrariar uma fonte de renda. Está errado do ponto de vista ético, porém, a
democracia permite que se diga que o dia está lindo ou que poderia ser mais
bonito.
Quando vemos propagandas aos montes, umas seguidas de
outras, falando de conquistas de um governo ou mostrando suas entidades com
seus produtos e serviços, estamos diante de uma enxurrada de dinheiro que não
mora nas casas decimais, mais e um monte de zeros que mantém os canais de
comunicação. É muito dinheiro para ter quem os paga contrariado. É por isso que
nas manifestações são mostrados apenas o que ameniza ou tenta neutralizar os
fatos. Para essas mídias, a briga isolada merece mais tempo na televisão do que
os discursos inflamados com apoio de milhões de ouvintes. Uma rua vazia com alguns
gatos pingados já indo embora com bandeiras nas costas podem ser mostrados como
os “únicos” a aparecerem na greve. A ação policial com bombas é mais importante
que os cartazes, faixas e gritos de desaprovação aos governos.
A imprensa precisa continuar a ser livre para dizer o que
pensa, desde que não mude ou tente mudar os fatos. Mas também não podemos
esquecer de que a liberdade que nos trouxe o fim da Ditadura garante a todos o
direito de noticiar, ou não, aquilo que lhe interessa ou deixa de interessar.
Respeito é bom e todo mundo gosta, mas o que ninguém aceita é a mutilação dos
fatos. Isso sim é repudiável, pois, ignorar é um direito, apesar de ser também
atitude covarde de quem se propõe a ser notícia, mas tentar a realidade com
manipulações de fatos é covardia ainda maior.