sábado, 5 de março de 2022

Mudar fatos ou ignorá-los é covardia

Um copo com água pela metade está meio cheio ou meio vazio. A opinião correta não é uma coisa nem outra, mas sim a visão de cada um. Assim é a maioria dos acontecimentos do dia a dia. Mas, não é de hoje que quem mais coloca em evidência esse paradoxo é a imprensa, ao evidenciar um fato ou simplesmente ignorá-lo, quando muito, ao amenizar o que a opinião contrária gostaria de ver em manchetes garrafais.

O papel do jornalismo deveria ser como o que seu código de ética ensina: ser imparcial ao extremo, procurar ver a verdade e só a verdade lhe interessar. Mas isso é utopia e vai contra o que a maioria dos estudantes de jornalismo imaginam fazer ao terminar a faculdade. Descobrem no primeiro emprego que o sonho de mudar o mundo contando somente a verdade dos fatos é um sonho que se sonha só, impossível, pois é nesta hora que ele descobre que a imprensa tem dono: o patrão que o emprega, pois essa “entidade” tem lados, tem amigos no poder ou aliados contra quem manda no mundo ao seu redor. Ao descobrir que não pode nadar contra a maré, só tem um jeito: nadar a favor dela ou sair da água.

Todo esse “floreio” é para explicar as razões do porque muitas emissoras de televisão, rádio, jornais e revistas deixam de mostrar as manifestações públicas e greves como elas realmente são. Quando certas mídias usam eufemismos em palavras ou simplesmente deletam fatos importantes, elas estão, simplesmente, atendendo aos interesses do patrão, que, jamais permitiria contrariar uma fonte de renda. Está errado do ponto de vista ético, porém, a democracia permite que se diga que o dia está lindo ou que poderia ser mais bonito.

Quando vemos propagandas aos montes, umas seguidas de outras, falando de conquistas de um governo ou mostrando suas entidades com seus produtos e serviços, estamos diante de uma enxurrada de dinheiro que não mora nas casas decimais, mais e um monte de zeros que mantém os canais de comunicação. É muito dinheiro para ter quem os paga contrariado. É por isso que nas manifestações são mostrados apenas o que ameniza ou tenta neutralizar os fatos. Para essas mídias, a briga isolada merece mais tempo na televisão do que os discursos inflamados com apoio de milhões de ouvintes. Uma rua vazia com alguns gatos pingados já indo embora com bandeiras nas costas podem ser mostrados como os “únicos” a aparecerem na greve. A ação policial com bombas é mais importante que os cartazes, faixas e gritos de desaprovação aos governos.

A imprensa precisa continuar a ser livre para dizer o que pensa, desde que não mude ou tente mudar os fatos. Mas também não podemos esquecer de que a liberdade que nos trouxe o fim da Ditadura garante a todos o direito de noticiar, ou não, aquilo que lhe interessa ou deixa de interessar. Respeito é bom e todo mundo gosta, mas o que ninguém aceita é a mutilação dos fatos. Isso sim é repudiável, pois, ignorar é um direito, apesar de ser também atitude covarde de quem se propõe a ser notícia, mas tentar a realidade com manipulações de fatos é covardia ainda maior.

Prêmio de puxa-saco é pé no traseiro

Houve tempo, e por muito tempo, em que as empresas mantinham e valorizavam funcionários do tipo “faz tudo”. Era o cara que sabia de tudo um pouco, quebrava uma tomada, ele trocava, quebrava um balcão, ele colava, pagava contas no banco, fazia compras no mercado para a patroa, lavava o carro do patrão, engraxava o sapato dele e, quando sobrava tempo, fazia o serviço para o qual fora realmente contratado, no melhor exemplo do clássico pelego.

Ainda há muitos deles trabalhando por aí, servindo a “patronagem” no jeito moderno dos moldes dos antigos escravos. E fazem tudo sorrindo, pois nas cabeças desses pobres viventes eles são “mais” que empregados, são considerados “quase que da família” e não conseguem perceber que são usados como trapo, pois no dia que não servirem mais para o tal do “pau pra toda obra”, vão ser mandados embora como qualquer outro que não serve mais aos interesses da empresa.

Muitas vezes, já se ouviu que o patrão valoriza mais quem os enfrenta de “mano a mano”, sem medo de olhar nos olhos, exigindo o devido respeito. É uma grande verdade, pois todos os que se dão valor são respeitados. Porém, há quem goste de bajuladores, puxa-sacos, pelegos do dia a dia, daqueles que ao sair dizem ao chefe: se espirrar enquanto eu estiver fora, saúde!

A linhagem dos baba-ovos está acabando aos poucos, com as especializações do trabalhador. Na medida em que ele se prepara para as atividades que desempenha, se desprende do paternalismo que ainda resta. Quanto mais aprende, mais fica independente e também muito mais produtivo, o que é bom para a empresa. Só não atende perfeitamente às exigências daqueles que querem mais que um funcionário, querem um serviçal, sempre pronto a atender uma ligação na madrugada, ou em pleno domingo, sem contar que precisa estar sempre à disposição para levar a madame no mercado ou as crianças do patrão na escola.

Se essas enumeradas não forem as atividades contratadas do empregado, ele está fazendo algo para agradar a chefia, portanto, é pelegagem, puxa-saquismo do mais puro sangue.

Por falar em empregado, está aí uma palavra que muitas empresas evitam usar, no mais puro eufemismo do mundo moderno. Preferem chamar os funcionários de “colaboradores”.

Ora, é preciso analisar a expressão “colaborador” no lugar de palavras como “funcionário” ou “empregado”, porque o termo pode ser utilizado para esconder a assimetria na relação de trabalho. Para existir uma colaboração real, é preciso que haja um equilíbrio de forças, o que não acontece em uma relação entre empresa e trabalhador. O uso de “colaborador” pode ser uma forma de camuflar as tensões nas relações de trabalho. A expressão pode levar o trabalhador a se esquecer de sua condição de submissão, que não deixa de existir mesmo quando uma empresa é mais participativa. Em alguns casos, o termo pode ser manipulado pelas empresas até para suprimir direitos trabalhistas.

Portanto, trabalhar é dar parte de conhecimento em troca de pagamento ajustado previamente. Servir patrões com trabalho não especificado no contrato é servir sanguessugas, com medo de ser mandado embora.

“Como cidade derribada que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio”, (Pv 25:28). Todo mundo sabe que, no fim da linha, o prêmio de puxa-saco é pé no traseiro.

Faça o teste do pescoço

 Nunca esteve tão em voga discutir o racismo. O brasileiro sempre se gabou de ser um povo miscigenado e que, por isso, se dá muito bem nos relacionamentos de entre raças. Pura mentira, pois o brasileiro é racista e preconceituoso até na alma, desde sempre. E não é só nas frases conhecidas, como chamar um negro de “preto de alma branca”, mas nos simples gestos que se pratica na presença de alguém diferente.

É muito comum ver pessoas que não escondem um certo mal estar ao chegar perto de deficientes físicos ou alguém diferente de sua cor. E isso está impregnado em gente de todo as raças, pois há racismo e preconceito em todas as linhas, de branco para preto, de preto para branco, e entre si, de todas as formas, incluindo outras raças e diferenças físicas.

As pessoas com problemas físicos aparentes são as mais discriminadas. Outro dia, numa conversa entre passageiros de ônibus, uma mulher disse dar graças a Deus por não ser negra nem aleijada. Esse é o perfil de uma mente que não consegue avaliar um mínimo problema social à sua volta, muito menos perceber que sua condição não é melhor do que ninguém.

Todo mundo tem um pouco de racista e preconceituoso. Se você não tem, parabéns, mas faça o “teste do pescoço” de Luh de Souza e Francisco Antero:

01 - Meta o pescoço dentro das joalherias e conte quantos negros são balconistas.

02 - Vá em qualquer escolas particular, espiche o pescoço pra dentro das salas e conte quantos alunos negros há . Aproveite, conte quantos professores são negros e quantos estão varrendo o chão.

03 - Vá em hospitais, enfie o pescoço nos quartos e conte quantos pacientes são negros, meta o pescoço e conte quantos negros médicos há, e aproveite para meter o pescoço nos corredores e conte quantos negros limpam o chão.

04 - Quando der uma volta num Shopping, ou no centro comercial de sua cidade, gire o pescoço para as vitrines e conte quantos manequins de loja representam a etnia negra consumidora. Enfie o pescoço nas revistas de moda, nos comerciais de televisão, e conte quantos modelos negros fazem publicidade de perfumes, carros, viagens, vestuários e etc.

05 - Vá às universidades públicas, enfie o pescoço adentro e conte quantos negros há por lá: professores, alunos e serviçais.

06 - Espiche o pescoço numa reunião dos partidos políticos e conte quantos políticos são negros. Vá na Câmara Municipal e veja quantos vereadores são negros. Vá na Prefeitura, nos bancos e confira quantos negros há trabalhando.

07 - Meta o pescoço nas cadeias, nos orfanatos, nas casas de correção para menores, conte quantos são brancos, é mais fácil.

08 - Gire o pescoço e procure quantas empregadas domésticas, serviçais, faxineiros, favelados e mendigos são de etnia branca. Depois pergunte-se, qual a causa dos descendentes de europeus, ou orientais, não são vistos embaixo das pontes ou em favelas ou na mendicância ou varrendo o chão.

09 - Espiche bem o pescoço na hora do Globo Rural e conte quantos fazendeiros são negros, depois tire a conclusão de quantos são sem-terra, quantos são sem-teto. No Globo Pequenas Empresas& Grandes Negócios, quantos empresários são negros?

10 – Entre todos os locais citados, em quantos deles há deficientes físicos com oportunidade de trabalho?

Ler não significa entender

 As redes sociais da internet fazem nosso assunto de hoje, e, mais uma vez, até porque são elas que compõem o maior número de comunicação entre pessoas, por incrível que possa parecer. Poucos conversam pessoalmente, se comparados com milhares de pessoas que passam a maior parte do tempo recebendo e dando respostas a conversas virtuais, banalidades na grande maioria.

Mas o que nos trás de volta ao assunto é uma pesquisa da Universidade Oxford, da Inglaterra, que acaba de ser divulgada. O universo pesquisado envolveu vários países, inclusive o Brasil. No geral, a pesquisa revelou que a maioria das pessoas não acredita nas informações replicadas pelas redes sociais. Elas responderam que acreditam na imprensa. Porém, no Brasil, ainda é considerável o número de gente que não sabe diferenciar uma informação verdadeira de um boato. São 21%, segundo a pesquisa, que acredita em qualquer bobagem lida e replica nas redes sociais, como se fossem novidades e verdades absolutas. O que denota uma ignorância que não deveria haver em tamanho número, pois 21% significa que temos, no país, 43 milhões de ignorantes alimentando besteiras na internet. Um número que combina com os políticos mal escolhidos, com o sucesso das novelas, dos programinhas barrelas de televisão, com a quase extinção de cinemas, teatros, bancas de jornais, livros e revistas, com a diminuição de leitores e com o respeito de uns pelos outros. A tecnologia está engolindo as pessoas tal qual o mar toma uma ilha aos poucos. O que deveria ser aproveitado como crescimento é mais diversão do que utilidade, pois, computadores e celulares na mão da maioria é só um brinquedo ou ferramenta fútil.

Mas, como se diz por aí, ruim com isso, pior sem isso. Não se chega ao fim de um caminho se não se iniciar a caminhada, o que significa dizer que cada coisa tem sua hora e lugar para acontecer.

No início do século passado, o número de analfabetos era assustador. Quem pensa que o quadro mudou muito, se engana. Não estamos falando de analfabetos funcionais, que se apinham em qualquer lugar, por mais que pareçam aculturados. O analfabeto citado aqui é aquele que não sabe ler, existente num número muito grande ainda no Brasil. O interior tem a maior quantidade, mas eles estão também pelos grandes centros, e não só nas periferias.

O que se entende por ler não é apenas o conhecimento de juntar letras, formar palavras e dar sentido às frases. Ler significa entender o que a frase quer dizer. E aqui é onde mora o problema, pois uma grande parte da população não consegue entender frases com mais de cinco palavras. É quase inacreditável, mas é a mais pura verdade. Quando surge uma palavra diferente do cotidiano, a coisa piora ainda mais, pois além de não entender, o analfabeto de leitura tem vergonha de dizer que não sabe, por isso não pergunta e continua sem saber. Um cursinho de Letras, em Manaus, fez um teste em uma fábrica, distribuindo um bilhete impresso para cada funcionário no portão de saída, na tarde de uma segunda-feira, com a seguinte informação: “o dia posterior ao que seguiu ontem não teremos expediente como prêmio de produção”. Resultado: apenas 15% deles buscaram informações na portaria e 60% foi trabalhar normalmente no outro dia. Ou seja, calcula-se que 75% por cento não entendeu que o “dia que seguiu ontem” é hoje e o posterior só poderia ser amanhã.

O pior de tudo é que há quem torça para que a situação fique pior. Educação e cultura significa o fim de lucros para muita gente.

Até para ser burro é preciso estudo

 Volta e meia, o assunto é desemprego, ou, meia volta, e volta-se a falar em desempregados. É o Brasil de ontem que se repete sempre, batendo a mesma tecla e tocando o mesmo sino. Enquanto duzentos completam uma nova lista de velhos e novos ladrões, duzentos milhões assistem boquiabertos o anunciar de como eles se locupletam com benesses ganhas para fazer algo errado, onde o prejuízo do país fica como se fosse uma bobagem qualquer, um detalhe em terra de cego, onde o mundo é dos espertos, porque quem tem um olho é rei. Um mundo de bandidos, desde os tempos de Tomé de Souza, o primeiro governador do Brasil, que trouxe com ele 400 vagabundos, saídos das prisões de Portugal, uma leva de “seletos” senhores e senhoras, com profissões antigas, tais como ladrões, tarados, prostitutas, corruptos e corruptores. Dizem que um erro de grafia exagerou nesse número ou que o documento que registra a chegada de tão ilustres ancestrais teve um borrão em cima do número 40. Mas, é mais certo que tenham sido mesmo 400, que, regados com nossas maravilhosas chuvas, atingiram o montante de safados que temos hoje, num crescente de fazer inveja aos campeões de proliferação, os coelhos.

Mas, em meio à falta de empregos, temos tido boas notícias por parte do SINE. Ultimante, estão precisando de gente. Porém, a velha ladainha: falta profissionais preparados e quem mais aparece são aqueles que “fazem qualquer coisa”, só que na hora da onça beber água, não sabem fazer nada, infelizmente, apesar de ao redor estar cheio de cursos profissionalizantes, muitos deles de graça.
Para se ter uma ideia, uma das vagas é para vendedor pracista com experiência em vendas e conhecimento em informática básica. Outra é para trabalhador agrícola na função de maquinista, com experiência especialmente com colheitadeira. Precisa-se também de consultor de vendas para atuar em comércio externo de materiais para construção, mas que tenha conhecimentos da área. Procura-se oficial de serviços gerais com experiência em prensa. As vagas mais simples também requerem predicados: criador de cavalo de raça, para trabalhar e cuidar da chácara e dos animais. Se não entender de cavalo, já era.  Uma das vagas mais procuradas está à disposição: família para morar em sítio. Mas, porém, portanto, é preciso que o homem tenha experiência com maquinários de colheita. Se não sabe lidar com elas, esquece a vaga.
Vovó dizia há 60 anos: estuda, meu filho, lá na frente, até para ser burro você vai precisar estudar.

Um buraco chamado ignorância

A beleza de uma cidade não se mede por ruas, praças e avenidas bonitas e bem cuidadas, mas, principalmente, pela educação de seu povo. O modo como andam no trânsito, de todas as formas, a pé, de bicicleta ou de carro, são os primeiros sinais de como são os cidadãos. Não é preciso ser especialista em comportamento para saber que os hábitos de uma pessoa são seus reflexos psicológicos, assim sendo, o comportamento de uma sociedade é a fotografia do que ela oferece para os demais indivíduos, quando em separado ou mesmo na coletividade.

Dizem que a educação vem de berço e a escola molda o resto. É uma verdade, assim como também é verdadeira a afirmação de que quem cospe no chão da cozinha jamais irá respeitar as ruas alheias.
A sociedade perfeita que todos esperam ainda está muito longe de acontecer, principalmente nas cidades onde o bairrismo caipira ainda é argumento para se defender a comunidade. Esse é um pensamento nascido nos povoados medievais, onde qualquer estranho que viesse era rechaçado no estilingue e nas pontas de lanças. Uma cultura não muito diferente das ensinadas nas tribos indígenas que receberam Colombo e Cabral.
Quinhentos e 16 anos depois, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos ancestrais. As exceções estão em comunidades onde a educação começa na cozinha de casa e continua lapidada nas escolas, aquelas onde uma criança de três anos de idade é ensinada a dizer, desde muito cedo, as três frases mágicas: “com licença”, “por favor” e “muito obrigado”. Essas são as preliminares que antecedem outras de igual importância, como “posso ajudar?”, “como vai?” e “parabéns!”.
Não é preciso ser escola particular para ensinar bons modos. É preciso ter profissionais preparados para isso, pois não basta saber brincar com crianças, é preciso atender as demandas delas. É inconcebível permitir que o acompanhamento de crianças em escolas seja feito com o que no passado tinha o nome de babá. A criança de hoje exige pessoas com respostas para o que elas assistem na televisão, no vídeo game, na internet e nos celulares. A escolha desses profissionais de apoio aos professores não pode ser na base da simpatia, mas na experiência. Custa mais caro, mas o futuro não tem preço. Por isso, é preciso investir na educação, caso contrário, ainda vamos ter que conviver muitos anos com pedestres mal educados, ciclistas cavalares e motoristas quase assassinos potenciais. É preciso reconhecer que a grande maioria não comete infrações por que quer, mas pela simples falta de conhecimento, um buraco chamado ignorância, onde o único crescimento que admite é o que faz o rabo do cavalo crescer para baixo.
Enquanto o tal buraco existir, asfalto bonito, praças verdejantes e prédios lindos não serão suficientes, porque, cheias de mal educados, as cidades continuarão feias, muito feias.

Agradar defunto é coisa de faraó

 O homem sempre teve a falha de reconhecer valores depois que já não conta mais com eles. É assim com propriedades, objetos e, principalmente, com o semelhante. Chegam a fazer piada com a própria falha, ao dizer que “todo mundo fica bonzinho depois que morre”. Isso se dá porque, depois que um indivíduo morre, seus valores se sobressaem sobre seus defeitos, em alguns casos. Em outros, permanece a tradição de que “não se deve falar mal de quem já morreu”.

Assim, após a morte, vem os discursos bonitos, solenidades póstumas, fotos que fazem saltar virtudes e até estátuas, sem falar nos mausoléus, museus, nomes de ruas, praças e dezenas de outros tipos de homenagens à memória do defunto.

Existe uma lei que proíbe homenagear gente viva dando seus nomes a locais públicos. Mas não é para proibir a homenagem em si, mas para evitar que os políticos homenageiem a si próprios. Não fosse isso, teríamos mais homenagens para pessoas ainda em vida, o que seria o politicamente e humanamente correto. Não que política não seja humana, mas é que as duas coisas nem sempre estão juntas, num país de tanta corrupção.

Ainda não há uma certeza do que ocorre após a morte. A ciência não tem respostas e a fé se encerra, ou inicia, na religião ou na subjetividade de cada um. Dizer que o homenageado morto assiste e recebe a homenagem, “de onde estiver”, é discutível, e falar em homenagem à memória é uma coisa vaga que fica restrita apenas ao pensamento dos que fazem a homenagem, ou seja, em lugar nenhum, porque depois da solenidade, cada um cuida de sua vida e o morto é, na maioria das vezes, esquecido para sempre.

Muitas homenagens são mais do que esquecidas, são decepadas da história e jogadas na lata do lixo. Prova disso são as estátuas de políticos derrubadas ao longo do tempo, quando já não se cultua mais a idolatria, principalmente nas mudanças de regime, como as derrubadas dos bustos e estátuas completas de Franco, na Espanha, e de Lênin e Stalin na Rússia. O próximo deve ser Kim Jong-um, com toda a família, da Coreia do Norte, ou Fidel Castro de Cuba.

No Brasil, há exemplos vários em muitas cidades, onde pessoas que um dia foram personalidades homenageadas, hoje são placas no ferro velho, porque, simplesmente, mudaram o nome da rua, da praça ou do bairro, para fazer homenagem a alguém do tempo atual.

Em Assis Chateaubriand temos um exemplo clássico do desrespeito com a memória nacional, feita pela própria Câmara Municipal, em 1989. A praça circular em frente ao Banco do Brasil tinha o nome em homenagem ao mártir da Independência, o grande Tirandentes. A mudança relegou aos trapos a história e homenageou um pioneiro, o português Manoel Clemente. Nada contra o seo Manoel, um grande chateaubriandense por adoção, mas ele poderia ser homenageado com outro logradouro.

Porém, para o azar da memória do português, ele também foi esquecido da homenagem, não oficialmente, mas pelos políticos, pelas administrações municipais, pelos vereadores, pela mídia e pela própria sociedade, quando, por osmose, mudaram o nome para Praça dos Pioneiros, só por causa dos colonos representados em uma armação de ferro, no centro da praça, armação essa que também sumiram com ela para dar lugar a um chafariz. Vamos ver quanto tempo ele fica com água. 

Como diz o francês, c'est la vie, que, na tradução literal significa “é a vida”, mas que pode ser entendido como “é assim mesmo”.

Corremos o risco de emburrecer?

Barata se lambuza quando acha um doce. O ditado velho, sábio e verdadeiro serve para exemplificar qualquer fato que demonstre semelhança quando o homem se depara com algo novo e atraente. É o caso das redes sociais, onde todo mundo escreve o que quer, da forma que quer, sem o medo de que alguém faça objeções sobre nenhum aspecto, seja no campo das ideias, seja na escrita, onde a língua usada quase sempre é chutada, massacrada, reinventada e assassinada, na base do “o que importa é se fazer entender”.

Tudo bem com o ato de se importar com que as pessoas se comuniquem cada vez mais, porém, não se pode negar que há um risco da banalização da língua escrita e até falada, além do perigo da contaminação para quem já estava no caminho certo, onde muitas pessoas deixam a preocupação em escrever certo para, simplesmente, fazer o que “todo mundo” está fazendo.

Algumas pessoas não instalam, ou desinstalaram o WhatsApp de seus celulares com a afirmação de que estavam “emburrecendo”, ao lerem tanta bobagem, não só na forma escrita, mas nas ideias simplistas, que, muitas, vezes, de tão ingênuas beiram a inocência, quando não, a ignorância.

Já se sabe, há muito tempo, que 80% das pessoas não conseguem entender um texto que acaba de ler, na primeira vez. Desses, 60% ainda não entendem na segunda leitura e 45% desistem na metade da terceira vez que leem o mesmo texto.

Agora, uma nova pesquisa mostra que 80% das pessoas não conseguem definir uma notícia falsa de uma verdadeira, pela incapacidade de raciocinar diversos aspectos, como o absurdo, o jocoso, o impossível e o óbvio. Eis a resposta das razões que levam milhares de pessoas, a cada segundo, a repassarem notícias ou mensagens falsas, chamadas “fakes”, com uma ingenuidade de dar dó. É o caso de uma nota que correu as redes sociais na semana passada, dando conta de que havia uma mulher no hospital regional que não sabia quem era, nem de onde vinha, após perder a memória numa queda na escadaria da rodoviária. Uma foto ilustrava a informação que foi repassada por milhões de pessoas por todo o país, sem que as pessoas se dessem conta de que tudo não passava de uma brincadeira de algum irresponsável. Muitos, aqui na cidade, repassaram a falsa notícia, se esquecendo de que aqui não há hospital regional, muito menos escadaria na rodoviária. É uma comoção geral desnecessária, levada pela tendência que o ser humano tem em ajudar o próximo. Porém, a maioria dos que repassam pedidos de ajuda pelas redes sociais são incapazes de dar um centavo ao mendigo que estende a mão ao vivo. Assim sendo, a hipocrisia também gosta das luzes da ribalta. Se os pedintes colocassem uma câmera transmitindo do local onde pedem, no chamado tempo real, mais pessoas dariam esmolas e o tradicional “tchauzinho” para a câmera. Vivemos o tempo onde o negócio, para muitos, é aparecer, nem que seja emburrecendo.

Obra intelectual tem sempre um dono

Já abordei este assunto aqui outras vezes, mas é um prazer bater na mesma tecla, pois, volta e meia, ele vem à mente nesses segundos que antecedem a primeira teclada no computador: qual o assunto a abordar hoje? A crise política do Brasil seria um tema atualíssimo, a política no Estado uma opção, o mercado local também. São inúmeros os motes para refletir em texto, oferecendo ao leitor uma janela de ideias para juntar aos seus conceitos, concordando ou deixando de concordar, conforme a subjetividade de cada um, na liberdade de julgar, aceitar ou jogar na lixeira das observações.

Porém, vamos adentrar no terreno que está cada vez mais comum no que se chama liberdade de expressão, seja nas redes sociais ou até mesmo na chamada imprensa. São os famosos textos colados na base do control C, control V, que no jargão jornalístico dá-se o nome de “chupar”, ato que rouba obras alheias.

Isso sempre existiu, mas não da maneira escancarada como nos dias de hoje, onde alguns pseudos jornalistas publicam textos e fotos, que nunca fizeram, como se fossem de suas propriedades, na maior cara de pau, sem o menor pudor.

De duas uma, ou desconhecem a lei dos direitos autorais, ou a desafiam porque nunca viram alguém que tenha entrado com um processo judicial para reivindicar o que lhe pertence.

Textos e fotos são obras intelectuais, propriedades como qualquer outro objeto, que, uma vez roubado, é crime sujeito a penas que vão de indenizações a prisão. A Lei 9610/98, que trata de direitos autorais, informa que “são obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”. Assim sendo, copiar sem a autorização do titular não é um simples roubo, é crime mesmo.

Assumir a autoria de um trabalho alheio sem autorização é plágio. E essa forma de roubar o trabalho dos outros tem ocorrido muito. Seja em textos inteiros ou em adaptações sem citar fontes.

Não há nenhuma infração, crime ou pecado em publicar o texto ou foto de alguém quando se cita a fonte, o dono do trabalho. Isso não desmerece quem publica e enaltece o autor. Porém, infelizmente, há muita gente que se acha profissional, mas não se dá ao trabalho de reconhecer a própria incapacidade e opta por, simplesmente, se apossar do que não lhe pertence, ‘adonando-se’ da obra alheia.

Um texto, uma foto, são como se fossem filhos, produtos de criação, muitas vezes nascidas à duras penas, fruto de trabalho e conhecimento que o “ladrão” de obras intelectuais não tem a menor ideia do que seja, pois não sabe o valor de algo assim e também não faz nada para saber.

Os “chupões” são o lixo da imprensa e de tudo o que transmite uma ideia roubada. São esses que emporcalham o universo da informação, tentando ser o que não são. No fundo, eles sabem que estão errados e sofrem com a própria incapacidade. Poderia até dizer que eles nos dão pena. Mas é melhor não, porque, apesar de coitados desprovidos de intelectualidade, não possuem vergonha na cara.

O ato solene de beber o morto

 Nesta semana, a comum visita que se faz aos velórios foi assunto de rodinhas de conversas. Dizem que partiu de comentários de vereadores em plena sessão. A tradicional homenagem aos defuntos e amparo amigo aos familiares foi comentado pelo ato que muitos fazem em benefício próprio, pensando em apoio para uma candidatura qualquer, geralmente partidária de eleições municipais. Todos sabem ser uma prática comum que se avoluma em ano eleitoral. Se por um lado pode representar uma farsa sentimental do visitante, por outro pode ser uma simples prevenção para não correr o risco de perder um voto. Pelo fato de não possuir o costume de ir a velórios, um pretenso candidato estará sujeito a ser julgado por não aparecer nas homenagens póstumas de alguém importante de um bairro, onde, talvez, ele nunca tenha pisado. Pelo sim, pelo não, neste caso consola-se a família do finado.

Quando se trata de um ato honesto, temos mais é que reconhecer o sentimento de solidariedade e aplaudir. Mas quando o objetivo é usar o momento para se aparecer, a classificação mais simples é falta de caráter. Não dá para admitir que se faça uso da dor das pessoas em benefício próprio, tentando arrebanhar votos para uma candidatura.

Há estórias interessantes de bebedores de defunto em qualquer cidade. Muita gente sabe, já ouviu falar, de cidadãos conhecidos da maioria e “chegados” nos recintos onde se “bebem” os mortos, alguns até de altos cargos políticos. Muitos deles, nestas alturas, já “viram” o velório do lado de dentro do caixão. Conta-se que um deles, político conhecido e já partido dessa pra melhor, (ou pior, vai saber…) não perdia um velório, mesmo que nunca tivesse visto o moribundo antes. Num belo dia de chuva, que combinava bem com enterros, ele já havia ido a três velórios, em nenhum deixaram ele fazer o que mais gostava: ajudar a carregar o caixão. Os motivos eram os mesmos, parentes que vieram de longe. Na quarta tentativa, também lhe negaram a tão sonhada alça do esquife. Nervoso, ele respondeu à última negativa do dia com uma frase que agora é parte de sua história: vá pra puta que pariu com esse defunto!

O erro na justiça da raiva

 Na hora da raiva o ser humano faz coisas que nem ele sabia que era capaz de fazer. Um ato sofrido de violência é muitas vezes respondido com uma ainda maior força bruta, dada à situação emocional que extrapola todo e qualquer controle animal que cada um tem. Quando o atingido é uma criança da família ou da comunidade, a resposta à violência pode explodir ainda com mais impacto, na maioria das vezes em grupo, buscando fazer o que se acredita ser lei, impetrando no acusado o “olho por olho”, seguida das mais torpes formas de violência. Nessas ocasiões, julga-se, condena-se e executa-se o “réu” com as mais duras penas que encontrarem no ato, ou até que o moribundo não mexa o último músculo.

Tudo isso pode gerar uma falsa sensação de punir um agressor, mas não passa de um ato de vingança cruel, saído de mentes agidas por impulso, utilizando apenas instintos animais que fazem parte do caráter individual ou de grupo, embora seja composto de pessoas consideradas cristãs, passivas e honestas.

Tentem imaginar o que passa pela cabeça de alguém que “fez” ou ajudou a “fazer justiça” com as próprias mãos, ao descobrir mais tarde que o acusado do crime era inocente. Isso ocorre com frequência, no mundo todo.

Um exemplo que fez muita gente refletir na possibilidade da tentativa de punir alguém por conta própria é o caso de uma criança que deu entrada num hospital com suspeita de ter sido estuprada. No momento em que era atendida, a própria família já tinha um suspeito, de dentro de casa, sem nem mesmo saber se houve um ato de agressão à criança.

Para alívio de todos, os médicos informaram que a menina sangrava por uma questão relacionada à falta de higiene, enquanto o suspeito escapava da possibilidade de ser morto num linchamento público, sem nada dever.

Julgar, condenar e matar na lei de pena de morte legal correm o mesmo risco. Sabemos que a justiça dos homens é falha, por mais empenho nas investigações que se tenha. O homem mente, por isso engana o próximo, levado a colocar a enganação no papel, que, por sua vez é frio, calculista, cego e impiedoso. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: a mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor.” Romanos 12:19.

O homem é uma ilha sim

 O menino na espera que a mãe corrija a tarefa da escola e a caçulinha lá no berço com a fralda cheia aguardando os cuidados maternos. Alguém chama há horas no portão e o feijão quase queima na panela. Enquanto isso, a mãe dedilha no celular e ri das milhares de bobagens no Whatsaapp ou Facebook da vida. A empregada faz a mesma coisa, diminuindo a diferença social entre as duas com os conteúdos ingênuos das mensagens que fervilham na internet, mas que poucos têm coragem de dizer pessoalmente, tolhidos pela timidez do frente a frente ou pela indiferença pessoal que mascara o modo de ser de quase todo mundo moderno.

Mas não é só em casa. Quem com ferro zapeia, com zap zap será ferido, é a nova lei, pois no mundo comercial vemos a mesma coisa, ao sermos preteridos pelo balconista que não nos vê até que tiremos sua atenção do teclado maldito que lhe tira do trabalho, ato que pode ser interpretado como roubo do tempo pago pelo patrão, que do alto de sua cadeira mandante na sala refrigerada, dedilha mensagens cheias de erros de gramática e envia filminhos pornográficos para o deleite dos amigos.

Na escola, a professora perde tempo ao ensinar Pitágoras, pois, para os alunos, o mais importante que a soma dos catetos é anexar a foto do “gato” da mesa ao lado. Nos ônibus, metrôs e afins, se ninguém se olhava, agora é que ninguém vê ninguém, pois o celular está sempre na cara de todo mundo, que anda como zumbi, escancarando sorrisos retardados, diria alguém do início do século passado, quando não havia esse objeto que atrai até a alma de quem o possui.

O pensador John Donne eternizou que “nenhum homem é uma ilha. Ele é completo em si próprio. Cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo”. Mas parece que a ideia não cabe mais no mundo de hoje, pois o que se vê em todo lugar são “ilhas” flutuantes num universo cotidiano, onde cada um vive por si, olhando os outros por uma janela que impede qualquer contato físico, se protegendo daquilo que o homem sempre teve medo: o ser humano.

Espalhe por ai:
 
 
 
 
 
 

Segurança se faz com polícia na rua

 Não resta a menor dúvida que a instalação de câmeras de segurança em pontos estratégicos de uma cidade é uma ferramenta importante no combate ao crime. Porém, já ficou provado que o uso delas sem monitoramento ou com número de policiais insuficientes para atender aos flagrantes não adiantam muita coisa. Em todos os lugares em que foram instaladas, chegou-se à conclusão de que o crime diminui no local para migrar para outros pontos, porque é impossível cobrir uma cidade inteira com os “olhos” eletrônicos.

O que há na maioria das cidades onde câmeras foram instaladas é o mesmo que ocorre com a gravação em vídeo dentro de um banco: assiste-se ao crime e depois se utiliza a gravação para investigar a identidade do criminoso. Como quase sempre o bandido está de capacete ou máscara, a maioria dos roubos, assaltos e assassinatos ficam sem resposta, sobrando apenas um “reality-show” da bandidagem, onde o cidadão tem sua história gravada como recordação de um infortúnio.

As estatísticas não deixam dúvidas de que, com câmeras ou sem elas, o número de crimes só aumenta no país inteiro, chegando até aos mais pacatos vilarejos.

Quanto mais instrumentos de combate à violência, melhor, mas ninguém duvida de que o melhor investimento que se faz nesta área é no próprio ser humano, aumentando o número de policiais nas ruas, dando lhes os aparatos necessários, pois tem bandido com canhões nas mãos, enquanto muito policial tem apenas um revólver velho, enferrujado.

O bandido teme uma viatura de polícia em ronda ou mesmo parada numa esquina. Já das câmeras, faz pouco caso e até dá “tiauzinho”, como um assaltante que baleou um idoso dentro de um ônibus em Curitiba, de cara limpa. Após a barbárie, pegou os pertences de todos os passageiros e mandou um beijo para a câmera que o filmava, instalada dentro do veículo. A polícia chegou até ele, dias mais tarde, mas ele já havia gasto o dinheiro roubado, queimou os documentos das vítimas e o idoso morreu.

Por tudo isso e muito mais, o melhor investimento, insiste-se, é a prevenção. O mal se corta pela raiz. E isso só é possível com mais homens, mais viaturas, mais armas. E nas ruas, 24 horas!

Em tempo: em muitas cidades a legalidade do uso de câmeras nas ruas está sendo discutida. Alguns juristas entendem que a medida “afronta o direito líquido e certo do cidadão à privacidade, à intimidade e à honra, previstos no artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal, sendo, portanto, inconstitucional”. Diz o inciso “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

Dinheiro de otário é alegria de malandro

 Para quem mantém um endereço eletrônico de e-mail é comum receber mensagens com propostas de criação de sites para trabalhar em casa e ganhar altos salários. Há os que chegam a prometer mega-vencimentos progressivos a cada mês. O pior é que tem quem acredita e engorda o faturamento dos criadores de tais artimanhas.

É claro que é possível ganhar dinheiro na internet, como já há milhares de pessoas fazendo isso. Mas também é sabido que o sucesso pode vir de um golpe de sorte ou muito trabalho, mas nunca de uma receita que se vende aos montes. Além disso, é como se fosse a galinha dos ovos de ouro, quem tem uma dessas (?) não empresta e nem mesmo conta pra ninguém. Aqui vale a receita do segredo, alma de qualquer negócio.

O mesmo ocorre com os tais pais e mães de santo, cartomantes e outros que se dizem poderosos receptores de mensagens do além, prometendo um amor de volta ou portas abertas para a felicidade. Por uma “consulta” à “módicos” 50 reais, o consulente “fica sabendo passado, presente e futuro”. E tem gente que acredita.

À mais simples das perguntas, nenhum desses “adivinhos” responde: quais os números da próxima Mega Sena? Algo mais humano ainda poderia ser desvendado, se realmente essas pessoas que dizem saber tudo pudessem “adivinhar” o paradeiro de gente desaparecida, ou o local onde se escondem bandidos perigosos.

Além disso, alguém que pode ver um momento alegre ou triste daqui há uma semana, pode muito bem “ver” qual será o bilhete premiado da Loteria Federal, ou menos, prevenir um acidente ou uma doença.

Com certeza, esses espertalhões responderiam que nem tudo pode ser revelado, ao que novamente se pergunta: que diferença há entre fazer um “amor” voltar e “fazer” um desaparecido ser descoberto? O que difere saber se um negócio vai dar certo e os números de sorte?

Bem dizia vovó que dinheiro de otário é alegria de malandro.

Poema da Conjugação

 De Clóvis de Almeida

No presente do indicativo
Falo logo e não me calo
No caso do verbo falar
Pode deixar que eu falo

Já no pretérito imperfeito
Há muito que eu cantava
Para guardar na memória
Comigo mesmo eu falava

No pretérito perfeito
Escrevi e até cantei
Para chegar bem pertinho
No seu ouvido eu falei

Pretérito mais perfeitinho
No passado eu cantara
Por isso é que eu lembro
No mais que perfeito eu falara

Lá no futuro do presente
Para todos cantarei
Mas se preferes que eu fale
Para ti eu falarei

O futuro do pretérito
Se soubesse eu cantaria
E os segredos escondidos
Pra você eu falaria

O Presente do subjuntivo
Não quer que eu me cale
Ele pede no meu ouvido
Que para você eu fale

Mas no pretérito imperfeito
O certo é que eu cantasse
Mas isso é no subjuntivo
O bom é que eu falasse

Futuro do tal subjuntivo
Não penses em me calar
Quando tenho objetivo
Abro a boca e vou falar

Tem um tal de imperativo
Afirmativo amigo meu
Pra falar é diferente
Mas agora fala Eu

O Imperativo Negativo
Manda que não se cales
Vai logo dando as ordens
Não me digas e não me fales

Infinitivo Pessoal
Pergunta se eu me calar
Tem sempre um SE na frente
Pra lembrar SE eu falar

O infinitivo Impessoal
É sozinho pra falar
Só tem uma forma de pessoa
E se conjuga sem calar

O Gerúndio é meio chato
Até mesmo se calando
Termina do mesmo jeito
Quando a gente está falando

A nova velha lista que provoca pendengas

 Começa o ano letivo e as reclamações recomeçam. Em todo o país, milhares de pais reclamam da longa lista de material escolar que as escolas receitam para os alunos. Começa nas instituições públicas e se estende às particulares, onde o número de itens costuma ser gigante. Algumas listas chegam ao exagero de pedir material proibido pelo Procon, como álcool, papel higiênico e, pasmem, tinta para impressora!

É bom lembrar que, pratos e copos descartáveis também não podem ser listados, assim como clips, giz branco e colorido, grampeador, grampos, lenços descartáveis, medicamentos ou materiais de primeiros socorros, material de limpeza, papel para copiadoras, papel de enrolar balas, papel para flipchart, pregador de roupas, plástico para classificador, tonner, fita durex grande, sacos de presente, sacos plásticos e talheres descartáveis.

Há registros de “listinhas” que pedem números absurdos de determinados materiais, chegando a listar quantidades de folhas de papel sulfite suficientes para outros três alunos, sem contar que os cadernos pedidos dariam para outros três anos.

O pior é que, quando os pais reclamam, geralmente sofrem represálias por parte da direção da escola.

Caso os pais se sintam prejudicados frente a uma lista considerada absurda, o Procon pode ser acionado. “Assim que a irregularidade na lista de material escolar for constatada, ou mesmo quando houver a desconfiança dos pais, o caminho é registrar a denúncia no órgão. Ao final da investigação, a escola pode ser multada”.

É sempre bom lembrar que é melhor um péssimo acordo do que uma boa pendenga. Portanto, não custa nada conversar primeiro, até se chegar a um acordo que seja bom para ambas as partes, ou melhor, para ambos os bolsos.

A lista indesejada pelo tamanho pode ficar ainda pior no balcão de compra na loja de materiais escolares. Como diria a maioria, “os preços estão pela hora da morte”. Tem para todos os gostos, mas até os mais baratinhos estão carinhos.

Para o problema de preço, só tem um remédio: andar e comparar, de loja em loja, mesmo que custem tempo e sola de sapato. Tem gente que garante ter economizado até 50%, andando, comparando e pechinchando. Pechinchar não é feio, é direito de negociação. Feio é levar prejuízo.

Outro probleminha muito discutido é o ato de levar crianças, ou seja, o aluno, na hora de comprar o material. Quase sempre eles querem o que o dinheiro não alcança. Há quem defenda que a presença delas são oportunidades para que tenham uma aula de finanças, outros pensam que é só para ter dor de cabeça, pois nem os beliscões tiram da ideia de um baixinho atiçado aquela mochila do Homem Aranha, que custa o salário do pai.

Hoje, como ontem, tudo igual

 Passa ano e entra ano e tudo continua a mesma coisa nos noticiários da televisão nacional. São as mesmas notícias em todos os canais, com pequenas variações que não representam praticamente nada, onde quem assiste a um, já viu a todos.

As informações internacionais são enviadas, parece, por uma mesma agência e os enviados, parece, vão aos mesmos lugares.

Essa xaropada acontece todos os dias, dá até para adivinhar.

Os espaços que as redes de televisão dão às emissoras afiliadas do interior é muito pequeno, enquanto muita besteira é injetada em rede nacional, deixando nítido que muitas vezes enchem linguiça com qualquer besteira que ajude a preencher o tempo do noticiário que cobram caro por ser transmitido para todo o país.

Isso tudo acontece porque o brasileiro é passivo e não seletivo. Basta ver numa sala de espera qualquer, onde há um televisor para distrair as pessoas que esperam ser atendidas. Ninguém pede para mudar de canal, seja qual for a porcaria que estiver passando na tela. O pior é que, quem liga a tv e escolhe o que vai ficar ligado é quase sempre uma secretária que fica de costas para a tela e não está nem aí para o que se passa nela. Mesmo que a programação esteja incomodando, ninguém fala nada, porque os demais estão fazendo cara de que estão gostando, ou que não estão prestando atenção.

Deveríamos reclamar, pedindo para mudar de canal, se a maioria concordar. Se todos decidirem para desligar o aparelho, que desliguem, afinal, atender ao pedido dos clientes é o mesmo que fazer a gentileza de oferecer uma televisão ligada em uma droga de canal qualquer.

Agradar gregos e baianos é muito difícil, todo mundo sabe. Mas já passou da hora de muita lanchonete e restaurante se acordarem para os aparelhos de tv ligados em futebol ou novela, como se todo mundo gostasse desses tipos de programação. A melhor solução, segundo uma pesquisa realizada em Londrina, é a exibição de clips musicais, ou show ao vivo, com uma variação de estilos, para tentar agradar a todos com pelo menos uma música. O que não dá é para se sentar a uma mesa é comer tendo que ver e ouvir um capítulo inteiro de uma novela que não acompanha, ou ter que ouvir intermináveis lances de futebol quando isso lhe é uma chatice só. Na mesa ao lado, as pessoas fingem que não estão se incomodando com a droga da televisão ligada, mas é possível que estão pensando o mesmo que você. Então, chamem o garçom e gentilmente peça: não tem outra coisa? Se alguém se incomodar, corra, porque pode dar briga se for uma novela ou futebol.

Até a água já não é mais a mesma

 Um assunto de sempre chama a atenção para os cuidados com a água, dando conta de que os poços artesianos não garantem água saudável e podem causar doenças, havendo a necessidade de um monitoramento através da Vigilância Sanitária.

Não resta a menor dúvida, pois, do jeito que a terra anda poluída, não há mesmo como haver água límpida e cristalina nas nossas minas subterrâneas, como há 50 anos.

Mas se aqui no interior a poluição da natureza está crítica, imagine nas grandes cidades, onde o quadro é muito mais feio. Pior ainda são nas cidades em que a água que serve a população nas torneiras vem do mesmo lugar onde são derramados os esgotos de banheiros de todo mundo.

Dia desses, um chateaubriandense que está longe de Assis há muitos anos escreveu numa rede social que o que mais lhe dá saudades aqui é tomar água na torneira da Praça da Américas, pois onde ele mora, até para tomar banho a água não presta. “Já vem fedendo da rua”, escreveu ele, descrevendo a água que recebe em casa.

O mundo está ficando pequeno e, aos poucos, estamos espremendo os mananciais que tanto precisamos. A recuperação das fontes de água é muito devagar, em relação à velocidade com que as destruímos. Há 40 anos, o Horto Municipal era três vezes maior e possuía mais de 100 minas de água. Muitas donas de casa lavavam roupas naquelas fontes. As conhecidas lavadeiras faziam filas, levando e trazendo “buchos” de vestuários para bater em pranchas de madeiras, montadas nas águas que corriam límpidas e doces. Hoje, esse número se reduziu a cerca de três fontes de água que abastecem o Rio Baiano, que de largo riacho se tornou um fio de água, perto do que já foi um dia.

O Rio Alívio, que já basteceu por completo a cidade, era fonte fresca para matar a sede nas próprias margens, tamanho era o frescor e qualidade das águas que se represavam na Sanepar. Com tanto veneno, lixo e bicho morto jogados nas margens, desde sua nascente, de alívio só restou o nome.

Como o homem acha saída para tudo, o caminho mais fácil foi buscar água no poço, furando aqui e ali. O Brasil já parece um queijo suíço, de tantos buracos de poços artesianos. Sabe-se que a reserva é grande, mas como tudo tem um fim, já se fala em buscar água em marte. Tomara que seja limpa e boa de beber.

Então tá então

 Um ditado afirma que ninguém sente falta do que nunca teve. É a mais perfeita verdade, porque não dá para sentir a ausência de algo que nunca fez parte do corpo, dos costumes, do dia a dia pessoal ou coletivo. Isso serve para justificar porque somos pacientes com a tecnologia tão atrasada que serve o país. Para o brasileiro, de forma geral, é normal um telefone celular que não “pega” em diversos lugares, uma conexão cheia de falhas, parecendo dois gagos conversando, ou uma internet mais lenta que tartaruga cansada.

Para alguém que conhece os padrões europeus, asiáticos ou americano da rede mundial de computadores, é inconcebível que em 2022 ainda tenhamos por aqui uma comunicação desse tipo com tamanho atraso.

Quando se pensa em reclamar, logo vem a pergunta: para quem? A maior parte do país não conta com banda larga de internet, as razões alegadas pelas empresas de telefonia é sempre a mesma, “não tem porta”.

Uma desculpa para que tenhamos tantos serviços mal prestados é a de que somos servidos por empresas estrangeiras, mas isso não pode servir de consolo, pois em outros países elas atuam dentro dos compromissos assumidos. O que falta por aqui é cobrança veemente por parte das autoridades responsáveis por fiscalizar. Mas quando se ouve, a cada dia, mais e mais denúncias de corrupção em todos os segmentos desse país, fica-se a pensar se não há maracutaia nas comunicações também.

Tem pessoas esperando internet em casa há anos, ouvindo sempre a mesma resposta de que não há suporte técnico. As explicações variam, mas a causa é uma só: quando não há demanda, não há interesse, pois nenhuma empresa vai instalar cabos em uma rua para atender a um só consumidor. Isso é óbvio, mas, quando se trata de contrato mal feito.

Se o Brasil exigisse mais na hora de permitir as explorações de serviços, teríamos internet, redes de água e energia até nos confins dos extremos do interior. Mas, infelizmente, não é assim que funciona, governa-se para poucos quando o assunto é periferia.

Desde que essa nação foi formada que pobre é assunto para depois do jantar, quando não há nada mais fútil para conversar, como se a grande população de eternos humilhados se contentasse com a velha história do pão e circo. Nos tempos modernos criaram algumas “coisinhas” para remediar, como, um serviço público de saúde que é uma lástima ainda na maioria das cidades.

As casas populares que o indivíduo morre pagando é outro ícone ostentado como grande conquista. O pobre festeja uma “sonhada casa própria”, enquanto o poder bate no peito como grande feito. O que se considera uma conquista de ambas as partes bem poderia ser algo melhor do que um terreno minúsculo, com uma casa ou apartamento que mais parece morada de pombos. Se fôssemos um país de poucas terras, mas temos dimensão continental e os municípios são enormes, por menores que sejam.

Mas, como diria vovó, ruim com isso, pior sem isso, ou, é melhor pingar do que secar. É por causa desses consolos que o Brasil continuará por muito tempo vivendo num pensamento medieval, onde todos sabem que podem, mas se consolam nos seus quadrados, votando sempre nos mesmos, com medo de que as tetas sequem, sem coragem de ver o que há no fim do túnel.

O rádio vai morrer

 O rádio como conhecemos hoje continua em ritmo de queda. A tendência é desaparecer a forma de como a comunicação radiofônica é feita dentro de pouco tempo. A diminuição do dinamismo de locução é o primeiro sintoma de extinção de um estilo que começou nos anos 40, sofreu diversas mudanças com desculpas de modernidade, mas que preserva praticamente os mesmos moldes, até hoje.

A informação tem base nos gostos, costumes e cultura dos jovens de hoje, que, a cada geração, se distancia ainda mais do modelo de fazer rádio que embalava a juventude dos anos 70 e 80. Não se ouve mais rádio como antigamente. No passado, a patroa ouvia rádio no radinho da empregada, segundo elas. Hoje, a mesma patroa assiste à televisão que fica na cozinha ou até mesmo na lavanderia. O locutor com voz de veludo já não engrossa o papo mais, dando lugar ao programa da Fátima na TV, ou às presepadas da Cristina Rocha nas tardes do SBT. Raramente alguém dá bola para o horóscopo, pois o que era algo interessante para muitos, hoje é só uma bobagem para a maioria. Na verdade, sempre foi bobagem, mas havia público que dava até lucro em razão das previsões astrológicas diárias. Cheguei a ter patrocinador exclusivo para ler horóscopo que eu recortava de jornais velhos, porque a edição do dia só chegava quando o programa tinha terminado. E ai de mim se esquece de falar de um signo!

As emissoras de rádio estão rebolando e virando os 30 no esforço para manter a audiência, enquanto que nos anos 70, nove a cada 10 pessoas ouvia rádio o dia inteiro. Os locutores eram considerados “artistas” e davam autógrafo. Hoje, os programadores são uma maioria de anônimos e grande parte dos adolescentes nem sabem que eles existem.

No interior, a preocupação é menor, pois o mercado ainda investe muito na programação do rádio. Mas é um fôlego que também tem tempo contado, pois as crianças do interior também crescem com um celular que toca só o que elas querem ouvir. Se esses são o futuro, o que será do rádio daqui a 20 anos?

A maior autoridade em rádio no Brasil é o professor, jornalista e radialista Heródoto Barbeiro. Segundo ele, “quando todas as emissoras estiverem em FM, a competição vai aumentar e pode chegar ao canibalismo. Vale a pena investir em uma tecnologia que já está condenada em alguns países do mundo? Esta é uma reflexão que os radiodifusores brasileiros têm que fazer diante da enxurrada de novas possibilidades de propagação do áudio”.

Darwin já dizia que os que sobrevivem não são os mais fortes, mas os que se adaptam.

O acerto de contas um dia chega

 O velho golpe do boleto falso enviado pelos Correios não acabou, além de contar com a versão moderna, enviada por e-mail, na internet. A insistência dessa prática, aparentemente ingênua, prossegue por dois motivos: a falta de organização dentro de empresas ou a inexperiência de quem as recebe. Quando não há um controle do que realmente se deve, uma continha de poucos reais é paga para “evitar” aborrecimentos. Como, de grão em grão a galinha enche o papo, no fim de um dia muita gente paga o que não deve, engordando assim a conta dos pilantras que vivem desses golpes.

Muita gente se pergunta, como é que ainda há quem caia em contos tão simples? A resposta tem a mesma simplicidade: falta de atenção. Um conhecido caso, tido como piada, realmente ocorreu, quando uma senhora estava quase depositando dinheiro na conta dos sequestradores de sua filha, quando se lembrou que nem filha tinha, tamanho eram os argumentos dos bandidos.

Todos os dias tem gente chorando depois que descobre ter colocado créditos de celular na conta de criminosos, pensando estar ajudando um parente que ligou pedindo ajuda para consertar o carro quebrado na estrada. Quase todo dia alguém ainda cai no conto do bilhete premiado. Toda hora tem milhares de pessoas replicando postagens das redes sociais com informações falsas. Uma hora é um rosto de pessoa abandonada em hospital, outra é de uma criança perdida. São centenas de bobagens repetidas por quem se emociona com a primeira impressão do que vê, sem nem ao menos se dar conta que pode estar ajudando a replicar um crime. Isso tudo é falta de atenção, que também atende pelo nome de ingenuidade.

Uma frase antiga do rádio não exagera quando diz que otário “raleia”, mas não acaba.

Mas, como ficar atento o tempo todo? É quase impossível viver no mundo de hoje sem ser otário pelo menos um pouquinho. É um universo de informações que nos chega o tempo todo, misturadas aos meios antigos, como do vendedor que nos bate à porta com um jogo de panelas, para nos surpreender com a voz de assalto. Não há mais segurança nem no simples abrir de uma cartinha, pois lá está a cobrança que vai nos levar ao protesto. Só depois de pagar é que nos damos conta de que nunca compramos na loja que nos enviou a conta.

Vovô dizia que o mundo é dos espertos. Mas é que ele era contaminado pela lei de Gérson, aquela que pregava levar vantagem em tudo. Um erro! O mundo é dos justos, a esperteza tem sempre seu preço: mais dia, menos dia, a conta chega, e não será cobrança falsa.

Tudo continua como antes

 A boca aberta sobre a situação dos “matadouros” desse país é uma piada. Quando os sessentões de hoje eram moleques, se matava a carne que se comia, no meio do mato, em matadouros, onde a gurizada se divertia com os bichos mortos escarniados em carretilhas, pendurados nas árvores. Os mosquitos dividiam com os meninos a curiosidade, com a vantagem de que os insetos se fartavam de sangue e colocavam ovos nas carnes que iam aos açougues, em cima de carroças, cobertas com lençóis encardidos, cheios de sangue, ou embaixo de folhas de bananeiras. Uma vez nos açougues, que não tinham geladeiras, tudo era dependurado em ganchos fixados nas paredes, onde se faziam vitrines com os quartos de bois, porcos, linguiças e outros adereços esfoliados dos animais abatidos. Em cima do balcão, uma bacia sobrevoada por varejeiras oferecia deliciosos torresmos para quem quisesse experimentar as iguarias. Linguiças de todos os tipos se exibiam em varais pendurados, onde moscas se fartavam, ao mesmo tempo em que deixavam ovos de descendentes.

Nesse tempo, não se falava em produto de qualidade, higiene total, nem fiscalização do que o povo comia. Os sessentões comeram muita carne vencida, muitos ovos de varejeiras e linguiças feitas com tudo o que era sobra, inclusive restos de carnes pisadas no chão, infectadas por fezes ou cuspe de quem as manipulava, por tosses e espirros, involuntários, ou por raiva do patrão.

Quem acha que isso mudou, engana-se. Em muitos abatedouros tudo continua como antes, a diferença é só o nome: hoje, chamam de frigorífico.

Claro que qualidade de produção existe na maioria das indústrias, porém, nunca haverá uma garantia total de que estamos comendo um produto absolutamente sadio. Estaremos sempre à mercê, ou seja, reféns, do que as autoridades dizem garantir. Não há como acreditar, enquanto não existir tecnologia que faça avaliação, aprovação e liberação dos produtos que consumimos, da mesma forma que o IPEM afere pesos e medidas. Assim, não há garantias de que o mamão do mercado não tem agrotóxico, que o alface não tem veneno ou que a rúcula não está contaminada com o musgo do caramujo. Não temos certeza de nada.

Olho vivo e faro-fino na entrega da compra

 Os observatórios sociais têm um papel fundamental nos municípios, na fiscalização dos gastos públicos, principalmente em relação às licitações. É importante que essas entidades mandem seus representantes em todo e qualquer evento de compras que a municipalidade executa, seja para aquisição da merenda escolar ou nas grandes negociações que envolvam materiais de construção, máquinas, carros, tratores e caminhões.

Esses observatórios realizam um trabalho que faz parte, ou deveria fazer, das obrigações dos vereadores. Porém, raros são os municípios em que os legisladores participam ativamente dessa fiscalização, salvo uns e outros que, de vez em quando, aparecem para marcar presença. Quando se registra a presença constante de um edital nesse atos, é coisa digna de tocar até o Hino Nacional e homenagear a ilustre presença habitual.

O que se observa é que, na maioria dos municípios, a atuação de fiscalizar as licitações são mais efetivas nos pregões de compra, lugar em que, raramente, dá algum problema. O maior risco de maracutaia não está na aquisição, mas no momento da entrega. Como é perigoso “comprar” gato por lebre, é mais fácil entregar o mais barato em lugar do mais caro. A imprensa está cheia de exemplos Brasil a fora.

Por outro lado, fiscalizar o recebimento de mercadorias não é uma tarefa fácil. “Trata-se de uma exigência que acaba por criar uma descrição obscura e subjetiva dos produtos a serem licitados e, consequentemente, uma impropriedade da identificação do objeto da licitação. A referida especificação acaba deixando o julgamento a critério dos membros da Comissão de Licitação, o que é subjetivo e pode conduzir o direcionamento do certame e, por conseguinte, a uma decisão arbitrária”.

Resumindo, para cada mercadoria é preciso que tenha alguém que entenda do assunto para saber se o produto é de 1ª ou de 2ª. O Tribunal de Contas de Minas tem um histórico julgado sobre o assunto, quando emitiu o seguinte parecer sobre a interpretação da qualidade das mercadorias: “o conceito de primeira linha carece de precisão necessária para a efetivação do princípio do julgamento objetivo previsto nos artigos 3º e 45 da Lei 8.666/93”.

Mas não é por ser uma tarefa não muito fácil que se deixa pra lá. É preciso estar atento, pois, apesar das diversas interpretações, é necessário olho vivo e faro-fino, pois a história está cheia de ouvir dizer que em lugar de mil sacas de cimento, “desceram” só 800. E as outras 200 sacas, o gato comeu?

Espalhe por ai: